De Maurício Mellone em novembro 7, 2017
Premiado na Semana da Crítica do Festival de Cannes deste ano como revelação, Gabriel e a montanha, filme de Fellipe Barbosa acaba de estrear depois de passar por festivais pelo mundo. A trama mescla ficção e documentário sobre os últimos 70 dias de vida do economista carioca, e amante das montanhas, Gabriel Buchmann.
Com roteiro escrito pelo diretor e por Lucas Paraizo com base em anotações do montanhista e em e-mails que ele enviou para a mãe, além de entrevistas com pessoas que tiveram contato com ele na época, o filme remonta a viagem que Gabriel, aos 28 anos, realizou em 2009 por quatro países da África (Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Malawi) e que culminou com sua morte. Ele teve hipotermia (diminuição excessiva da temperatura do corpo) durante a madrugada, após subir o monte Mulanje, o pico mais alto de Malawi, sem a ajuda do guia, que ele havia dispensado. No elenco, o ator João Pedro Zappa interpreta o aventureiro carioca, Caroline Abras vive Cristina, a namorada dele, além de pessoas que foram intérpretes e guias do brasileiro durante a viagem pela África e que, no filme, interpretam as situações vividas em 2009.
O filme começa com um lindo e comovente plano sequência (sucessão de imagens sem cortes), em que dois camponeses trabalham e acabam por encontrar Gabriel morto, debaixo de uma rocha, com todos os seus pertences ao lado. Corte e a trama volta no tempo, retomando a viagem do carioca, que pretendia observar mais de perto a pobreza para se preparar para seu doutorado em políticas públicas. Ele evitava os tradicionais passeios turísticos e procurava ficar próximo ao dia a dia da população, tanto que se hospedava nas casas daquelas pessoas que o ajudavam (seus intérpretes e os guias para as trilhas nas montanhas), além de participar de ritos locais, portar objetos típicos e usar vestuário característico de alguns povos africanos.
Este ritual é mantido até a chegada de Cristina: a partir daí a trama passa a retratar o reencontro do casal, que aí sim, faz safáris ao lado de outros turistas. Mais do que matar as saudades, Gabriel e Cristina têm a chance de se conhecer mais e, consequentemente, as diferenças vêm à tona: o lado conservador e machista de Gabriel aflora assim como a visão de mundo de Cristina se contrapõe à do namorado. A despedida deles no aeroporto de Zâmbia (penúltima etapa da viagem do montanhista) é uma triste separação do casal (que por ironia do destino é a definitiva). Com a partida da namorada, Gabriel resolve viajar para Malawi e lá alcançar o pico do monte Mulanje, que tem mais de 3 mil metros de altitude. Ele retoma seu contato com os nativos e inicia a aventura ao lado do guia. No entanto, por ter pressa, Gabriel dispensa o guia e resolve enfrentar sozinho a perigosa montanha.
O filme é um tributo do diretor a seu amigo de infância, Gabriel Buchmann. No entanto, a trama não procura endeusá-lo, pelo contrário, ao lado de atitudes humanitárias dele, o diretor ressalta as limitações, as atitudes intempestivas e a visão conservadora de mundo do rapaz. Destaque para a sensível atuação de João Pedro Zappa, sua química em cena ao lado de Caroline Abras e a espontaneidade no set dos nativos (não atores). Produção sensível, comovente.
Fotos: divulgação
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