Meu nome: mamãe- comovente solo de Aury Porto sobre relação mãe filho

De em julho 15, 2024

Aury Porto, além de atuar, é o idealizador do espetáculo e autor do texto

 

 

O ator Aury Porto está de volta com seu solo Meu nome: mamãe. Com temporada aos domingos e segundas-feiras, até o final deste mês, no Teatro Ágora, o espetáculo é baseado na história pessoal do ator, que com a colaboração de Claudia Barral na dramaturgia, remontou a relação que ele e sua família mantêm com a mãe, portadora de mal de Alzheimer há mais de 15 anos.

 

Sob direção de Janaina Leite, a peça mostra a maneira sensível e original de tratar a pessoa que apresenta demência e perda de memória, sintomas do mal de Alzheimer: ao invés do isolamento e do distanciamento das pessoas adoentadas, Aury e as irmãs, além dos cuidados médicos, empregam no tratamento da mãe afeto, leveza e bom humor.

 


 

 

Com dramaturgia de Claudia Barral, Aury é dirigido por Janaina Leite

Num  cenário com poucos elementos — uma mesa e duas cadeiras cobertas por um tecido cru —, o público entra com o ator já em cena. Sob os efeitos de iluminação e de uma trilha evocando os ritmos do Nordeste, o ator dança e aos poucos senta e os espectadores têm certeza estarem diante de uma senhora, que balbucia algo incompreensível. No instante seguinte, o ator começa a relatar sua história de vida: cearense da região de Cariri, sertão do estado, eles (o pai, a mãe  e as irmãs) sempre moraram na fazenda, próxima da cidadezinha.

 

 

O foco central da narrativa é a mãe e a dedicação que ela sempre teve por todos. Entre o relato das histórias familiares e as lembranças do ator, há a interferência da mãe hoje, que é portadora de Alzheimer.

 

 

 

 

Confesso que fiquei impactado com a sutileza com que Aury trafega do relato real sobre sua existência para as fantasias e o mundo lúdico em que vive a mãe.

 

 

“Ações, esboços de diálogos, depoimentos e intervenções foram sendo lapidados e reorganizados em um exercício delicado de tessitura de fios de memória e de experiência. A dramaturgia reconstitui, em um mosaico, os laços que unem mãe e filho. São cenas da vida cotidiana que, tocadas pela condição do Alzheimer, se reestruturam não para o apagamento, mas para o aflorar de uma transformação”, conta Claudia Barral

 

 

Por tratar a relação íntima e particular de uma família de forma tão profunda, a peça atinge a todos. E o ator faz questão de lembrar que o Brasil vive hoje uma transformação: já fomos uma nação de jovens, nossa população está envelhecendo. De acordo com dados recentes, o país apresenta 1,2 milhão de pessoas portadoras de mal de Alzheimer e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.

 

 

 

“O Brasil tem aumentado sua expectativa de vida e faz-se necessária uma mudança de paradigma. Estamos deixando de ser um país da juventude e urge nos debruçarmos sobre a velhice como fenômeno social”, diz Aury Porto.

 

 

 

Interpretação visceral, impactante

 

Além do texto tocante e a criativa plasticidade (luz, projeção, cenário e trilha), o espetáculo comove pela atuação brilhante e visceral de Aury Porto. Assisti à peça com uma plateia diminuta, o que não prejudicou; ao contrário, senti em diversos momentos que o ator dialogava com a gente. Emoção pura. Não percam!

 

 

 

 

 

Roteiro:
Meu nome: mamãe
. Idealização, texto e atuação: Aury Porto. Direção: Janaina Leite. Dramaturgia: Claudia Barral. Cenário e figurino: Flora Belotti. Trilha sonora: Rodolfo Dias Paes (DiPa). Iluminação: Ricardo Morañez. Fotografia: Reanto Mangolin. Produção: Bia Fonseca e Aury Porto.
Serviço:
Teatro Ágora, Rua Rui Barbosa, 664, tel. 94576-6703. Horários: domingo e segunda às 20h. Ingressos: R$70 e R$35. Vendas: Sympla. Duração: 60 min. Classificação: livre. Temporada: até 29 de julho.


Deixe comentário

Deixe uma sugestão

    Deixe uma sugestão

    Indique um evento

      Indique um evento

      Para sabermos que você não é um robô, responda a pergunta abaixo: