CDs: Chico César, Lenine e Carlos Rennó, foto 1

O clamor e o alerta pela vida de Carlos Rennó, Chico César e Lenine

De em setembro 19, 2015

CDs: Chico César,  Lenine e Carlos Rennó, foto 1

Em ‘Estado de Poesia’ de Chico César e ‘Carbono’ de Lenine há parcerias com Carlos Rennó

Desde o lançamento de seus recentes trabalhos — Estado de Poesia /Chico César e Carbono/Lenine —, confesso ter ficado extremamente sensibilizado com a denúncia e o grito de alerta em duas canções, ambas escritas por Carlos Rennó.
Em Reis do Agronegócio Chico César — só com seu violão e o poder de sua interpretação — denuncia os desmandos e os crimes cometidos pelos ‘produtores de alimento com veneno’. Por sua vez, em Quede Água, Lenine  —também com seu violão, mas num arranjo com toda a banda (guitarra, baixo, percussão) e um vigoroso coro —, constata a situação de seca por que vivemos, antevê o futuro e faz um chamado para que seja salvo “o que resta’. Em ambas as canções, o paulista Carlos Rennó e seus parceiros do Nordeste (o paraibano Chico e o pernambucano Lenine) são incisivos na denúncia contra os crimes ambientais cometidos contra a humanidade ao mesmo tempo em que clamam a todos a agir para que possamos ter um futuro!

Cds: Chico César, Lenine e Carlos Rennó, foto 2

Rennó e Lenine criaram ‘Quede Água’

Há clamores e denúncias comuns nas duas músicas; na canção de Chico é apontado até onde chega o desmando dos poderosos:

“Desmata Minas, a Amazônia, Mato Grosso…:/

Infecta solo, rio, ar, lençol freático. ”

E na de Lenine, os autores também apontam a extensão do problema:
“A seca avança em Minas
Rio, São Paulo

O Nordeste é aqui, agora.”

 

 
No entanto o tom e a forma de apontar a realidade que nos cerca são apresentados de maneiras distintas nas duas músicas. Em ‘Reis do Agronegócio’, ao contestar o discurso dos poderosos e apontar seus crimes, o tom é contundente, feroz e implacável:

“Vocês desterram povaréus ao léu…

…Vocês que enxotam o que luta por justiça.


…Vocês que podam e que fodem e que ferram
Quem represente pela frente uma barreira

CDs: Chico César, Lenine e Carlos Rennó, foto 3

Rennó e Chico César compuseram ‘Reis do Agronegócio’

Já em Quede Água, há a constatação do mal, que ninguém consegue contestar, mas a denúncia tem a intenção de provocar uma atitude do ouvinte:

Os rios voadores da Hileia
mal deságuam por aqui,
E seca pouco a pouco
em cada veia o Aquífero Guarani.”

 

Entretanto, nesta canção o vigor e a indignação não deixam de estar presentes, pelo contrário:

 
“O lucro a curto prazo,
o corte raso, o agrotóxiconegócio,
a grana a qualquer preço.”

 

Rennó e os parceiros nas duas músicas anteveem um futuro, nada cor de rosa:

Eu vejo o campo de vocês ficar infértil,

num tempo um tanto longe ainda,

Mas não muito.

Eu vejo a terra de vocês restar estéril” (Reis)

 

“Algo que parecia tão distante
periga agora tá perto.

…E a tragédia da seca, da escassez,
cair sobre todos nós
”. (Quede Água)

 

Rennó, na parceria com Chico, destrincha todo o ideário dos ‘donos do agrobiz’ e não alivia na denúncia de seus crimes. Com firmeza termina seu longo clamor enfaticamente:

Que eu me alegraria se afinal morresse
Esse sistema que nos causa tanto trauma
”.

 

Poeticamente, Chico repete estes dois versos e, como que reafirmando para quem dirige a canção, retoma os primeiros versos:

 
Ó donos do agrobiz, ó reis do agronegócio
Ó produtores de alimento com veneno
”.

 

O arranjo de Quede Água, por sua vez, vai num crescendo, dando ênfase ao estribilho que é o título da canção, até ter uma pausa para que Lenine proponha:
 

Agora é encararmos o destino

E salvarmos o que resta.”

 

Os poetas no final, da também longa canção, enaltecem as belezas da vida nesta Terra e clamam para que todos ajam:

 
Para criarmos alegria para viver/

o que houver para vivermos,/

Sem esperanças,/

mas sem desespero,/

no futuro que tivermos.

 

Cds: Chico César, Lenine e Carlos Rennó, foto 4

‘Estado de Poesia’ foi produzido por Michi Ruzitschka e Chico César e ‘Carbono’ por Bruno Giorgi, JR Tostoi e Lenine

 

 

Não deixo me emocionar a cada vez que ouço estas canções, que passam a ser ícones destes nossos tempos atuais. Que cada um de nós ouça, reflita e possa propagar o clamor dos poetas! Acompanhe a seguir clipes das duas músicas:

 

 

 

 

 

 

Reis do Agronegócio
Chico César/Carlos Rennó

 

 

Quede Água
Lenine/Carlos Rennó

 

 

 

Fotos: divulgação


2 Comentários

Marcelo Brettas

setembro 19, 2015 @ 15:36

Resposta

Lindas músicas e ótima resenha!

Maurício Mellone

setembro 21, 2015 @ 14:03

Resposta

Marcelo,
obrigado, tb adoro as músicas
e não sosseguei enquanto não escrevi
sobre elas, traçando a relação entre elas.
bjs

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