De em janeiro 15, 2011
Chega a ser engraçado para mim postar aqui no blog um texto sobre telenovela, já que escrevi durante anos para revistas populares voltadas ao público aficionado por novelas. Nas redações, sentia-me às vezes na pele do novelista, já que era responsável pela matéria de capa da revista, que trazia a novela principal da Globo. Durante o desenrolar da novela, tínhamos acompanhado todos os capítulos e tramas paralelas, além do farto material recolhido pelos repórteres que entrevistavam artistas, diretores e os próprios autores. Mas nem todas as informações e decisões sobre o rumo da história eu possuía ao escrever as matérias que relatavam a novela. Era preciso muita imaginação e conhecimento do estilo de cada autor para que os erros fossem pequenos.
No entanto, novela em que a trama central é policial, as dificuldades eram ainda muito maiores, pois a graça desse tipo de texto são os mistérios e a fatídica pergunta: quem matou Salomão Ayala, ou então quem matou Odete Roitman e agora quem matou Saulo Gouveia?
E neste quesito, Sílvio de Abreu é mestre: adora escrever trama policial e fica empolgado ao surpreender o público, com mudanças radicais dos personagens e nuances pouco percebidas, que vêm à tona nos capítulos finais.
Não gostaria de estar na pele de editores de revistas de TV nessas semanas, quando Passione chegou ao seu final. Os mistérios da trama Sílvio de Abreu fez questão de guardar a sete chaves e nem os próprios atores recebiam os capítulos na íntegra. E ele conseguiu: o frisson do público foi até a última cena, quando desvendou que a vilã Clara, vivida por Mariana Ximenes, era a verdadeira responsável pela morte do empresário e tinha escapado do país.
Sílvio de Abreu não deixou nenhum mistério sem solução, todos os pontos foram amarrados dessa trama policial extremamente bem articulada. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o autor diz que não gosta de escrever cenas de amor, prefere as de ação: “Gosto de novela ágil, que traga a cada dia um entretenimento diferente. Por isso misturo dois gêneros lúdicos, o thriller e a comédia, com o melodrama de tempero. Cada gênero tem suas regras e é preciso segui-las de maneira que eles não entrem em choque”, diz.
Outra preocupação do autor é que o público pense na história ao final da novela. Mais um tento para o mestre: ele surpreendeu a todos com a reviravolta da Clara. Ela termina a trama como começou, ou seja, como uma enfermeira ou cuidadora de velhinhos ricos. Com certeza seus golpes e tramoias continuarão. O final ficou em aberto e não houve um maniqueísmo banal com o bandido castigado e o mocinho recompensado.
A posição de telespectador de uma novela do Sílvio de Abreu é bem mais cômoda do que editor de revista de fofoca: com certeza se estivesse numa redação, teria sofrido muito para tentar desvendar as artimanhas preparadas pelo mestre!
Foto: Divulgação
6 Comentários
Laura Fuentes
janeiro 19, 2011 @ 18:06
Bom demais estar do outro lado, né? E poder até criticar, se for o caso. Não acompanhei a novela, mas sou testemunha que como ela envolveu as pessoas. Mais um ponto pro Silvio.
Maurício Mellone
janeiro 19, 2011 @ 18:09
Laura:
É ótimo estar do outro lado do balcão, vc bem sabe disso!
O grau de envolvimento das pessoas foi muito grande mesmo e o Sílvio merece!
bjs
Adriana
janeiro 18, 2011 @ 16:15
Ma, parabéns pelo texto. Vc fez uma viagem pelo tempo ao escrevê-lo, não é mesmo? Mas o tempo não passa pra quem entende do assunto. Na verdade, torna-se um aliado. E vc, como sempre fez, arrasou fazendo seus comentários sobre a trama de Silvio de Abreu, que realmente é um mestre e amarrou muito bem a história, que teve um ótimo final. Parábéns mais uma vez!!
Dri
Maurício Mellone
janeiro 18, 2011 @ 16:41
Adriana:
uau, elogio de editora de revista de TV é o máximo!
Revivi velhos tempos mesmo ao escrever esse post, vc bem sabe,
pois éramos cúmplices numa das redações por onde estive!
Bjs e volte sempre!
aline
janeiro 15, 2011 @ 17:49
Mau, tem algumas coisas que achei ruins, como por exemplo a família inteira do Totó sofrer daquele jeito, mesmo quando sozinhas em cena. Outra coisa, quando a Clara fingia que era boazinha e a gente acreditava, também fingia pra ela mesma? em cenas que estava sozinha? Adoro Silvio de Abreu, vc sabe, adoro novelas mais ainda, mas me deu a impressão que as coisas tomaram novos rumos no meio do caminho e esqueceram esses pequenos detalhes, de resto, vc arrebentou, como sempre, nesta critica. bjus
Maurício Mellone
janeiro 17, 2011 @ 14:26
Aline:
Obrigado pelos elogios!
Mas tenho de discordar de vc: a Clara (isso o autor argumentou q desde o início já tinha difinido o final)
vingia o tempo todo para q fosse crível, o público acreditasse em seu arrependimento. O sofrimento
dos familiares do Totó (qdo da morte fajuta dele) tb era para q a vilã caísse na cilada…..
São visões q cada um pode (e deve) ter; mas num ponto concordamos: o Silvio conseguiu eletrizar
a galera e todos acompanharam o final da novela com muito entusiasmo, coisa q há tempos não se via por aqui!
bjs