De Maurício Mellone em outubro 31, 2019
Uma grande retrospectiva da carreira da fotógrafa norte-americana Susan Meiselas, de 71 anos, desde os primeiros trabalhos realizados nos anos 1970 até sua produção mais recente, está reunida na Galeria 2 do Instituto Moreira Salles (IMS Paulista). Com curadoria de Marta Gili, Pia Viewing e Carles Guerra, a mostra Susan Meiselas – Mediações contém mais de 180 fotografias, além de vídeos, cartas, instalações e documentos.
Integrante desde 1976 da famosa agência Magnum Photos, Susan Meiselas é conhecida no mundo por registrar conflitos sociais na América Central, em especial por suas fotos sobre a revolução sandinista da Nicarágua. Nesta exposição, que já esteve em Paris/França, Barcelona/Espanha e em San Francisco/EUA, além de guerras, os temas abrangem direitos humanos, identidade cultural e indústria do sexo.
Logo na entrada da exposição o visitante encontra uma frase da fotógrafa que define bem o seu modo de trabalhar e de se relacionar com os objetos fotografados:
“A câmera é uma desculpa para estar em um lugar ao qual você não pertenceria de outra maneira. Isso me dá tanto um ponto de conexão quanto um de separação.”
As imagens que abrem a mostra são dos primeiros anos profissionais de Meiselas. A série Rua Irwing/1971 traz registros dos vizinhos da fotógrafa da pensão em Cambridge, com cada morador em seu canto. Ela pediu para que eles falassem sobre suas fotos e assim os textos acompanham as imagens. A própria fotógrafa se retratou nesta época.
A outra série, Retrados na Varanda/1974, são registros realizados na Carolina do Sul quando Meiselas dava aulas de fotografia para crianças.
Fechando este período inicial, há a série Meninas da Rua Pince de Nova York, em que a fotógrafa registrou de 1975 a 1990 o cotidiano de garotas (de 8 a 10 anos) que perambulavam pelas ruas. As fotos mostram, portanto, as mudanças nos corpos e nas vidas destas meninas durante 15 anos.
A série seguinte, Strippers de Festivais, registra o trabalho da fotógrafa em festivais de strippers em Nova Inglaterra durante três verões (1972/75). Meiselas conquistou a confiança das garotas e diz que quis saber o que as motivava.
Intitulada América Central, esta série traz os trabalhos que mais marcaram a carreira da fotógrafa. São os registros das guerras em Nicarágua/1978-79, conhecida como Revolução Sandinista, e em El Salvador/ 1978-83, em que Meiselas captura a violência da ditadura militar e o golpe de 1979.
Com as fotos de Nicarágua, que correram o mundo, ela editou um livro sobre o levante popular. Sua foto Homem-molotov passou a ser um símbolo do movimento da Nicarágua, justamente porque registra um rebelde sandinista em ação um dia antes que o ditador Somoza deixasse o país.
Curdistão (1991/2007) é um projeto multimídia da mostra, com fotos, vídeos, instalação e documento — que registra o genocídio contra o povo curdo. O projeto teve início em 1991 quando a fotógrafa foi ao Iraque para registrar as ações criminosas comandadas por Saddam Hussein. Ela achou que as imagens eram insuficientes para expressar aquele horror e aí reuniu fotos, mapas, documentos e depoimentos sobre o tema, que estão reunidos na instalação, de grande impacto!
A mostra chega ao fim com a série Violência Doméstica, que reúne imagens de dois momentos: o primeiro Arquivos do abuso/1992 denuncia os casos de violência doméstica em San Francisco, na Califórinia, com cartazes de rua com fotografias de cenas de crimes e relatórios policiais.
Já na série Um quarto para elas/2015, Susan trabalha com mulheres sobreviventes do abuso doméstico em uma região pós-industrial do Reino Unido. As fotos são mescladas com testemunhos ao lado de colagens criadas a partir de um processo colaborativo.
Caixa de Pandora encerra a mostra: numa sala fechada é exibido um vídeo com fotos e relatos de frequentadores de um clube de sadomasoquismo em Nova York. Esta série mantém estrita ligação com a sequência dos festivais de strippers.
A exposição permanece em cartaz até 1º de março de 2020, com ingressos gratuitos. Confira.
Roteiro:
Susan Meiselas- Mediações – retrospectiva da fotógrafa norte-americana. Curadoria: Marta Gili, Pia Viewing e Carles Guerra. IMS Paulista, Galeria 2, Av. Paulista, 2424, tel. 11 2842-9120. Horários: de terça a domingo das 10h às 20h; quinta das 10h às 22h. Ingressos: gratuitos. Temporada: até 01º de março 2020.
Fotos: divulgação
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