De Maurício Mellone em junho 7, 2019
Considerada a figura central do modernismo brasileiro, a artista plástica Tarsila do Amaral ganha a mais ampla exposição dedicada a ela no Brasil. Com curadoria de Fernando Oliva e Adriano Pedrosa, o MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) promove a mostra Tarsila popular, que reúne 92 obras, entre desenhos e pinturas, abrangendo diversas fases da carreira da arista, nascida em Capivari, interior de São Paulo.
De acordo com os curadores, o enfoque da exposição é o popular, que na obra de Tarsila se manifesta nas paisagens do interior, da fazenda, do subúrbio e das favelas, por meio de personagens da cultura brasileira, como os índios, os negros e figuras de lendas e mitos, além de plantas e animais nativos.
Logo na entrada da exposição o visitante dá de cara com o quadro A Negra/1923, um de seus mais famosos, que ao lado de Abaporu/1928 e Antropofagia/1929, são a marca do modernismo brasileiro. Este espaço também é dedicado aos retratos, que para Tarsila eram uma “coisa tranquila, séria, como um momento que a gente contempla sem se cansar”. Além de dois autorretratos, há os dos escritores Oswald de Andrade (com quem ela foi casada) e Mário de Andrade.
“Sinto-me cada vez mais brasileira, quero ser a pintora da minha terra”
Além de frases de Tarsila do Amaral, como esta, a mostra em cada segmento traz um elucidativo texto, com informações tanto do momento histórico como uma detalhada descrição dos quadros da artista. Da fase Pau-brasil da carreira de Tarsila (de 1924 a 1928), há quadros muito representativos, com cenas rurais e urbanas como O Mamoeiro/1925 e Morro da Favela/1924.
Religiosidade é outra fase destacada na exposição, com quadros que revelam lendas populares e indígenas, como o famoso Abaporu — que numa livre tradução do tupi seria homem que come —, A Cuca/ 1924, Religião Brasileira I /1927, Procissão/1954 e Batizado de Macunaíma/1956.
Outra fase de grande destaque da carreira da artista foi a pós 1929 (em referência à crise mundial daquele ano), em que a pintora começou a trazer temas realistas e de cunho social para suas telas; as pessoas também ganham o primeiro plano. Destaque para Maternidade/1938, A Família/1925, Operários/1933 (rico registro do período de industrialização brasileira, com 51 rostos sobrepostos) e Trabalhadores/1938 (negros garimpeiros trabalhando, um deles em destaque com expressão de angústia).
Depois de bem-sucedidas exposições na Europa e EUA (no MoMa de Nova York no ano passado), Tarsila popular traz um grande painel da carreira de Tarsila do Amaral para o Brasil — o sucesso junto ao público é constatado com as filas gigantescas para entrar no museu. Para o curador, a mostra não esgota as discussões sobre a artista paulista, pelo contrário:
“A exposição leva em conta também questões de raça, classe e colonialismo e aponta para a necessidade de estudar esta artista tão fundamental em nossa história da arte a partir de novas abordagens”, arremata Fernando Oliva.
Roteiro:
Tarsila popular – mostra da artista plástica Tarsila do Amaral, com 92 obras. Curadoria: Fernando Oliva e Adriano Pedrosa. MASP: Av. Paulista, 1578, tel. 11 3149-5959. Horários: de quarta a domingo das 10h às 18h; terça das 10h às 20h. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (terça, gratuito). Fotos: divulgação. Temporada: até 28 de julho.
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