De Maurício Mellone em outubro 17, 2012
Nós paulistanos sabemos da quantidade e diversidade de produtos culturais que a cidade oferece e nem sempre conseguimos prestigiar a tudo o que gostaríamos! Para um blogueiro cultural como eu, a angústia é ainda maior. Por isto que desde a abertura da 30ª Bienal de São Paulo, em setembro, estou para ir ao Ibirapuera, mas só ontem consegui. E como sempre a maratona foi intensa.
Com o título de A Iminência das Poéticas e curadoria do venezuelano Luis Pérez-Oramas a edição atual traz 111 artistas — 56 deles com obras inéditas — e mais de 3 mil obras expostas pelos quatro enormes andares do prédio. Dentro do evento acontece ainda, entre os dias 6 e 8 de novembro, um simpósio internacional com a participação de intelectuais de vários países, além de exposições paralelas em diversas instituições, como MASP, MAM, CCBB, Pinacoteca, Instituto Tomie Ohtake, Oficina Cultural Oswald de Andrade, Liceu Artes e Ofícios, SESC Pompeia, Itaú Cultural e no Edifício Copan.
Desde a entrada no Pavilhão da Bienal senti uma grande diferença: o próprio edifício projetado por Oscar Niemeyer em si é uma obra de arte. Saber usar a sua arquitetura (os grandes vãos e a altura entre os pisos) valoriza o que é exposto. Mas a curadoria optou por compartimentalizar a exposição: as obras estão em cubos brancos, separados por categorias. Para o curador a intenção foi produzir espaços abertos que permitissem atender às constelações internas de cada artista.
Polêmicas à parte, um dos grandes destaques da mostra é a seção de grandes arquivos, em que o brasileiro Arthur Bispo do Rosário está presente com 348 peças: ele, que viveu décadas recluso em hospitais psiquiátricos, usava peças dispensadas pelas pessoas para criar suas obras, tão significativas. Ainda desta seção arquivos, ressalto a coleção de 619 fotografias do alemão August Sander, de sua obra Pessoas do Século 20: centenas de imagens de pessoas comuns, que constituem um registro da sociedade moderna em que ele viveu.
Ao lado de Sander, está outra coleção de fotos, estas do holandês Hans Eijkelboom, que retrata imagens das pessoas em ruas de diferentes cidades do mundo todo. É um retrato do atual mundo globalizado.
E pra ficar ainda em fotos, do brasileiro de Valença/RJ Alair Gomes, temos imagens de corpos masculinos: ele mostra jovens em poses que aludem a esculturas clássicas, com muita sensualidade e vigor.
Na entrada da exposição há um texto do curador em que define o tema da 30ª Bienal de São Paulo:
As obras de arte existem em estado de iminência: acontecem de novo a cada vez, transcendem as intenções e os programas ideológicos que as tornaram materialmente possíveis. Poética é um instrumental que permite a qualquer pessoa decidir como se expressar. Tal é a iminência das poéticas: vir a ser, a cada dia, diante de nós, a matéria inteligível de nossos dias”, diz Pérez –Oramas.
Impossível numa resenha voltada para blog apresentar um número significativo de artistas participantes da Bienal. Além destes já citados, gostaria, no entanto, de salientar ainda alguns trabalhos. É o caso do argentino Eduardo Stupía: seus desenhos de traços muito fortes elaboram manchas, figuras e paisagens capazes de fazer o observador vagar pela composição para descobrir novas dimensões.
A brasileira Lúcia Laguna mescla em suas pinturas o concreto e o fictício, conectando a paisagem urbana a imagens de seu imaginário.
Por fim indico ainda os vídeos de Ali Kazma, da Turquia, que propõem indagações sobre o modo como as ocupações definem o homem e seu estar no mundo; suas criações exploram o que há de humano e o que há de máquina em nosso cotidiano.
A visita à 30 Bienal de São Paulo não precisa ser uma única vez: se a maratona for muito intensa, volte outras vezes, aproveite que o ingresso é gratuito. Uma última dica: comece a visita pelo terceiro piso, onde estão as obras da seção arquivo.
Serviço:
30ª Bienal de São Paulo – A Iminência das Poéticas. Pavilhão da Bienal de São Paulo, Parque do Ibirapuera. Mostra reúne 111 artistas e mais de 3 mil obras. Horário de visitação: terça, quinta, sábado, domingo e feriado das 9h às 19h (entrada até às 18h); quarta e sexta das 9h ás 22h (entrada até 21h). Ingresso: gratuito. Temporada: até 09 de dezembro de 2012.
Fotos: divulgação (site http://www.bienal.org.br)
Deixe comentário