De Maurício Mellone em julho 4, 2013
Impossível acompanhar a extensa programação cultural da cidade de São Paulo. Mas há algumas atrações que merecem mais atenção do público e não se pode deixar de conferir. Mesmo que no finalzinho da temporada.
Este é o caso da montagem de A Dama do Mar — em cartaz só até domingo no SESC Pinheiros —, um projeto assinado pelo diretor norte-americano Robert Wilson (o badalado Bob Wilson), que não só dirige como é o responsável pelo cenário e pelo conceito de iluminação.
A peça, de Susan Sontag, é baseada no clássico de Henrik Ibsen, e faz uma releitura da lenda da mulher foca, Ellida, que depois de ter vivido na juventude a liberdade do mar selvagem da Noruega, renuncia a tudo e se casa com um velho médico viúvo e pai de duas filhas. Dirigindo pela primeira vez atores brasileiros, Bob realizou testes e optou por duas atrizes para interpretarem a personagem título: Lígia Cortez e Ondina Clais Castilho se revezam no papel de Ellida e sua enteada Bolette. Completam o elenco, Hélio Cícero (o médico Hartwig Wangel), Luiz Damasceno (o professor Arnholm) e Felipe Sacon (o estrangeiro); Bete Coelho faz uma participação especial como Hilde, a outra enteada.
Bob Wilson consegue reter a atenção do público desde o prólogo: sem uma fala, os atores deslizam pelo cenário sob uma iluminação marcante. Deu-me a impressão que este início é um misto de artes plásticas, dança e teatro! No programa da peça, o diretor explica seu método de trabalho:
“Como sempre, parti do cenário, que para mim é a arquitetura que está entre o que vejo e o que ouço. O que me tocou neste texto é uma luz contínua que é atingida por uma linha de tempo sobrenatural. A beleza está no modo pelo qual esses dois mundos se chocam”, diz Robert Wilson.
Os paulistanos que assistiram a A Dama do Mar dirigira por Sérgio Ferrara no ano passado — Ondina Catilho e Luiz Damasceno interpretaram o casal Ellida e Dr. Wangel— têm condições de fazer ricas comparações, já que Ferrara optou por uma versão mais realista do que a de Bob Wilson. Nesta versão escrita por Susan Sontag, o fascínio pelo mar de Ellida e sua paixão avassaladora pelo estrangeiro (um ser até místico em cena) ficam mais evidentes. No entanto, a essência da peça de Ibsen, a dúvida daquela mulher entre manter o casamento ou abandonar tudo por sua atração pelo mar, fica bem marcada na versão do diretor norte-americano.
Fiquei impressionado com a plasticidade do espetáculo: com poucos elementos em cena, uma trilha, assinada por Michael Galasso, que reproduz fielmente os sons do mar e o lindo figurino assinado por Giorgio Armani, A Dama do Mar envolve toda a plateia num clima onírico e de liberdade, que é o tema central discutido por Ellida. A afinação do elenco é outro grande destaque: na noite em que assisti, tive a grata satisfação de poder contar com a performance extraordinária de Lígia Cortez como a protagonista.
Na minha opinião, o espetáculo é um dos grandes destaques do cenário teatral deste ano. Realmente imperdível, só até o dia 7 de julho, neste domingo. Corra!
Fotos: Luciano Romano
2 Comentários
Ed Paiva
julho 5, 2013 @ 15:01
Maurício, concordo plenamente que “A Dama do Mar” é um dos melhores espetáculos da temporada. Ligia Cortez parecia uma sereia que nos encantava com a forma precisa com que entoava as palavras. Digo o mesmo de Hélio Cícero, como o Dr. Wangel. Cada cena é em si uma verdadeira obra-prima que celebra o teatro com uma beleza transcendente!
Obrigado pela ótima resenha!
Maurício Mellone
julho 8, 2013 @ 12:22
Ed,
que bom q vc gostou da resenha, obrigado.
A Dama do Mar do Bob Wilson sem dúvida é um dos grandes destaques
da cena teatral deste ano. A Lígia está entre as minhas indicações
para os prêmios!
Obrigado pela visita e, principalmente, pelo incentivo constante e sempre carinhoso!
bjs