A Peste: monólogo com Thiago Lacerda sobre a obra de Albert Camus

De em outubro 15, 2024

O ator Thiago Lacerda vive o médico Bernard Rieux, que conta sobre a devastação da peste

 

O horror porque passamos com a pandemia do coronavírus está ainda muito vivo na memória de todos. O espetáculo A Peste, que acaba de estrear no Sesc Santana, é uma adaptação do diretor Ron Daniels para o livro do escritor franco-argelino Albert Camus publicado em 1947. No romance, com tradução de Valerie Ramjanek, o autor disseca a mudança na vida dos moradores da cidade de Orã, na Argélia, após a chegada da peste, transmitida por ratos, que dizimou a população local.

O espetáculo é um monólogo conduzido pelo ator Thiago Lacerda. Seu personagem é o médico Bernard Rieux que relata como a população de Orã luta para sobreviver à devastação causada pela peste. A alusão ao que a humanidade passou com a Covi-19 é imediata.

 

 

 

Ator já interpretou nos palcos Calígula de Albert Camus

 

 

 

 

 

Num cenário diminuto, assinado por Márcio Medina, com poucos elementos que remetem a um consultório médico, Dr. Rieux faz seu relato demonstrando a evolução da peste, desde a instauração da epidemia, os efeitos causados no cotidiano das pessoas até os desdobramentos das ações da população e seus efeitos. Em alguns momentos o médico faz uma pausa em seu relato e, numa grande tela ao fundo do palco, imagens são projetadas de um horizonte, uma praia paradisíaca e vazia. O ator, de costas para a plateia, parece refletir sobre a contradição daquelas imagens plácidas com o terror vivido em Orã.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O romance de Camus, assim como a peça, associa o surgimento da epidemia com a ocupação nazista na França durante a segunda guerra. Há portanto a intenção do autor que sua obra seja uma metáfora da resistência, em todos os sentidos. Para o diretor, trata-se de um texto que conta uma história que acontece longe de nós, num passado remoto, mas que fala também de um flagelo que assolou a todos nós há pouco tempo, de maneira trágica:

 

“As coincidências são muitas se comparadas à nossa situação atual. Mas o que mais se destaca na obra é a forma sensível, inteligente e perspicaz com que o autor aborda a condição humana no amor, no sofrimento, no exílio, na luta pela justiça e na coletividade”, argumenta Ron Daniels.

 

 

 

 

 

 

Atuação segura, comovente

 

 

 

Interpretar um monólogo é sempre um desafio e um exercício grandioso para atrizes e atores. No entanto, quando se trata de um texto denso, árido e de uma temática tão pungente como A Peste, este desafio se torna ainda maior. E Thiago Lacerda se sai muito bem deste embate: com uma direção voltada à interpretação, ele está seguro em cena e transmite com brilhantismo o teor dramático do texto de Albert Camus. Outro destaque do espetáculo fica para sintonia entre iluminação e sonorização na condução narrativa. A montagem permanece em cartaz até 10 de novembro. Confira.

 

 

 

 

 

 

 

 

Roteiro:
A Peste
. Texto: Albert Camus. Tradução: Valerie Ramjanek. Direção e adaptação: Ron Daniels. Com: Thiago Lacerda. Cenário e figurinos: Márcio Medina. Iluminação: Fábio Retti. Direção de imagem e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud. Sonorização: Aline Meyer e Renato Garcia. Fotografia: Mônica Côrtes. Direção de produção: Érica Teodoro. Produção executiva: Nélio Teodoro. Produção: Ibirapuera Prod. Artísticas.
Serviço:
Sesc Santana (330 lugares), Av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. 11 2971-8700. Horários: de quinta a sábado às 20h e domingo e feriado às 18h. Ingressos:
Duração: 80 min. Classificação: 16 anos. Temporada:  até 10 de novembro.


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