De Maurício Mellone em janeiro 18, 2016
Depois de ter participado do Festival Cena Contemporânea de Matosinhos em Portugal e de uma pequena temporada na cidade no fim de 2015, a peça Caminham nus empoeirados, baseada num conto do livro A Macaúba da Terra de Gero Camilo, volta a ser encenada no Teatro Nair Bello.
A produção é resultado do encontro de artistas lusitanos e brasileiros: Gero Camilo e a portuguesa Luísa Pinto conceberam a direção do espetáculo, que desta vez é interpretado por Victor Mendes e pelo próprio Gero — nas primeiras apresentações o ator português João Costa compartilhava o palco com os dois brasileiros. A peça traz a trajetória de dois atores que, entediados numa companhia teatral, abandonam tudo e partem pelo mundo em busca de aventuras e novas plateias.
Bem ao estilo de teatro mambembe, o espetáculo começa com os dois atores entrando pelo saguão em direção ao palco, cantando e carregando suas trochas, que contêm tudo o que necessitam, tanto para suas apresentações ao ar livre, como seus pertences pessoais. A letra da canção introduz a história daqueles dois atores, que mesmo com temperamentos distintos nas encenações atuam como uma dupla perfeita e entrosada. Se um é introvertido e se isola para escrever quando está de folga, o outro é extrovertido, mulherengo e irrequieto. Com poucos elementos cênicos e uma mesa dobrável, que serve como palco assim como um beliche para dormir, eles viajam pelo mundo e vivenciam as aventuras, alegrias e as imensas dificuldades em razão da precariedade da estrutura de que dispõem. Talvez até porque os dois têm opostas visões de mundo, os conflitos entre eles sobressaem; no entanto o amor à arte de interpretar é maior, o que faz com que permaneçam unidos.
Com boa sintonia em cena, Gero Camilo e Victor Mendes logo ganham a empatia dos espectadores, que participam com entusiasmo, principalmente nas cenas de plateia. Com um título tão criativo, particularmente esperava um conteúdo mais reflexivo e crítico de Caminham nus empoeirados. Para quem conhece a verve dramática de Gero Camilo, tão bem demonstrada em outros trabalhos como em Aldeotas/2004 que ficou anos em cartaz com muito sucesso e Cleide Eló e as Peras/2006 e A Casa Amarela/2011 sobre a vida de Vincent Van Gogh, este espetáculo não emociona como os anteriores. Entretanto é uma comédia que pode agradar grande número de pessoas.
Fotos: Francisco Teixeira e Cacá Diniz
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