De em março 30, 2011
Na última segunda-feira aconteceu o lançamento coletivo de diversas obras da Coleção Aplauso, da editora Imprensa Oficial, na Cinemateca Brasileira.
Sucesso de público e de crítica, essa iniciativa lançada em 2004 já dispõe de 277 títulos e tem como objetivo central o resgate da história cultural brasileira contemporânea. Inicialmente eram biografias de atores e hoje a coleção está dividida em séries: Especial, Perfil, Cinema, Cinema Brasil, Roteiros, Teatro, Televisão, Crônicas e Críticas, Músicas.
Dentre os últimos lançados, tive o prazer de ler Carro de Paulista, que reúne o texto teatral de Mário Viana e Alessandro Marson e o roteiro para telefilme de Dagomir Marquezi e Ricardo Pinto e Silva baseado na peça teatral.
Não por acaso a peça é sucesso desde que foi encenada pela primeira vez em 2003. O argumento é envolvente: quatro adolescentes da periferia, mais precisamente da Zona Leste, resolvem vir para a região nobre da cidade, os Jardins, num carro emprestado para “sair com umas minas”. Numa fase de explosão hormonal e, ao mesmo tempo, inexperiência sexual, os garotos ficam deslumbrados dentro daquela “lancha” e partem para uma noite de aventuras e descobertas. Pedrão, Júnior, Raio do Sol e Jorginho têm personalidades distintas (o machão, o bronco, o sensível e o tímido) e com diálogos ágeis e tiradas engraçadas a identificação com o público (espectador e agora leitor) é imediata. Para a jornalista e crítica teatral Beth Néspoli, o texto contém “elementos suficientes para provocar a empatia de espectadores de diferentes extratos sociais”.
O linguajar característico dos garotos é outro elemento de destaque da obra: parece que estamos ouvindo o adolescente se expressar, além de ser hilário.
—“Deixa de ser bobo, pivete. Quando a gente fala beber é de álcool, tá ligado? Bebida de macho!”
—“Ui, macho, tá! Você sabia que beber álcool é negativo pro carma?”
—“Eu é que vou perder a carma contigo, moleque. Quero cerva, bebida de macho. E só macho que sabe beber é que ganha as minas!”
O roteiro de Dagomir e Ricardo para o telefilme exibido em 2009 na TV Cultura utiliza a peça na sua totalidade e introduz algumas adaptações. Segundo Dagomir, “tudo o que eu pude preservar do texto original eu preservei. Não se deve mexer muito num texto vencedor”. Dessa forma, além dos quatro garotos, as minas (interpretadas por uma única atriz no palco) ganham vida própria no filme, além de personagens, só citados no original, possuem outra dimensão no roteiro. São Paulo também é realçada na versão telefilme, com o carro circulando por diversos pontos da cidade.
Carro de Paulista é uma leitura ágil, dinâmica e engraçada. Além da peça e do roteiro, há depoimentos dos autores Mário Viana, Alessandro Marson e Dagomir Marquezi e a análise de Beth Néspoli. Fico na torcida para que o filme seja reapresentado (não tive a chance de assistir) e que o livro tenha o mesmo sucesso que suas outras versões!
2 Comentários
Mario Viana
março 30, 2011 @ 18:08
Nossa, Maurício, que delícia ler isso. Olha aí, é o meu guri, olha aí…
Maurício Mellone
março 31, 2011 @ 14:16
Mário:
Que delícia q vc gostou! Fiquei muito contente com a peça:
ri muito com aqueles garotos (“veio, tá ligado?”)
Parabéns! Quero assistir ao filme….
bjs
Maurício