De Maurício Mellone em março 15, 2016
A cena inicial de O Campeão de Dominó do Alaska, texto inédito de Mário Viana que acaba de estrear no Espaço Parlapatões, é justamente com o personagem, interpretado por Eduardo Parisi, que venceu o campeonato de dominó no Alaska descrevendo as emoções finais da partida. A sequência é com a chegada dele à casa da mãe (Maria Eugênia de Domênico), quando revela seu plano mirabolante ao irmão (Valdir Rivaben): para saldar suas dívidas de jogo, quer entregar a mãe como forma de pagamento aos credores.
A partir deste mote toda a trama se desenrola e o estilo marcante do autor fica realçado: com ironia e tiradas hilárias o público se diverte, para em seguida ser tomado por uma emoção profunda, já que o drama daquela mulher idosa, em fase adiantada da doença (mal de Alzheimer), vem à tona e mobiliza a todos.
De início, o filho que sempre cuidou da mãe tem uma reação indignada sobre a proposta do irmão. No entanto, quando ele tem conhecimento do quanto poderiam lucrar com a negociata, muda de opinião e ambos passam a tramar a forma de executar o plano e convencer a mãe a viajar. Neste momento há a reviravolta no tom emocional da trama, da comédia para o drama, pois a mãe começa a agir e o público imediatamente identifica as posturas, gestos e comportamento de uma pessoa vítima de Alzheimer, infelizmente tão comum hoje em dia.
“A encenação trabalha a partir do equilíbrio entre o cômico e o dramático, que é a base do texto do Mário. A situação nos remete às questões éticas e sociais que afloram com mais força em momentos como o que vivemos no Brasil hoje, de grande desesperança e desamparo. O texto e o jogo dos atores são o fundamental”, argumenta o diretor Aimar Labaki.
O que mais me chamou atenção no espetáculo é exatamente o jogo dramático proposto pelo autor: com o público já conquistado graças ao mote cômico e nonsense, há a surpresa com o estado mental e psíquico daquela mãe. Assim como o livro mais recente de Marcelo Rubens Paiva em que ele descreve a situação da mãe vítima de Alzheimer, Ainda estou aqui, esta nova peça de Mário Viana traz à tona o drama de uma pessoa com esta doença, que clama em dizer que ainda vive, apesar dos transtornos decorrentes da moléstia.
Além do texto impactante, O Campeão de Dominó do Alaska se destaca pela direção precisa de Labaki e a sintonia dos atores em cena, com destaque para a emocionante performance de Maria Eugênia de Domênico. Montagem cumpre temporada curta, somente até 13 de abril. Não perca!
Fotos: Angela di Sessa
2 Comentários
Miriam Bemelmans
março 15, 2016 @ 16:40
tb gostei muito.
Maurício Mellone
março 16, 2016 @ 11:12
Miriam,
obrigado pela visita aqui no Favo.
A peça do Mário encanta mesmo.
Volte outras vezes, bjs