De Maurício Mellone em janeiro 9, 2023
Considerada uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos, Clarice Lispector já recebeu inúmeras releituras de sua obra e vida no teatro, no cinema e na TV. No entanto a cineasta pernambucana Taciana Oliveira não se intimidou diante deste fato e acaba de lançar o que ela definiu como ensaio documental sobre a escritora.
Clarice Lispector- a descoberta do mundo, em cartaz no Cinema da Fundação, faz um passeio pela vida da escritora, desde sua chegada ainda pequena no Recife no início dos anos 1920, sua infância e adolescência em Pernambuco, sua ida para o Rio de Janeiro, seu casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente e sua intensa vida de escritora e jornalista. Com uma rica trilha sonora, o filme mescla imagens de mar com textos da obra de Clarice lidos Andrea Veruska, Cristina Pereira, Elias Andreato e Eucir de Souza, além de depoimentos do casal de escritores Marina Colasanti, Afonso Romano de Sant’Anna, e ainda Ferreira Gullar, Alberto Dines, Maria Bonomi, amigos e familiares.
Além de trechos de seus livros e de crônicas — publicadas originalmente no Jornal do Brasil e depois reunidas no livro A descoberta do mundo —, Clarice Lispector está presente no filme por meio de sua entrevista ao programa Os mágicos, da TV Educativa, em 1976. É desta forma que o espectador sabe que Clarice se sentia na infância completamente livre e “excessivamente sensível”.
A cineasta, a partir deste primeiro depoimento da escritora, vai misturando imagens de mar com trechos da obra de Clarice e os depoimentos dos amigos. O interessante é que as imagens na praia trazem sempre uma personagem feminina, de acordo com a idade da escritora: as primeiras são com uma garotinha, depois com uma adolescente, uma mulher adulta e por último uma mulher madura.
É desta forma cronológica que a diretora vai relatando a trajetória de Clarice Lispector, primeiramente sua infância e adolescência no Recife, com os depoimentos das sobrinhas e primas. Com sua ida para o Rio, os amigos iniciam os depoimentos, contando sobre os primeiros livros, seu casamento com o diplomata e suas constantes temporadas longe do Brasil, o nascimento de seus dois filhos (Pedro e Paulo), a separação e sua volta definitiva para o Rio. Há ainda relatos sobre as dificuldades para ingressar na imprensa carioca e dedicação integral de Clarice à escrita.
Com roteiro assinado por Taciana Oliveira e pela escritora Teresa Montero e trilha sonora que se encaixa muito bem às imagens, os textos lidos ganham ainda mais significado. O tom intimista e reflexivo da obra de Clarice fica evidenciado no documentário, assim como seu olhar peculiar e aguçado sobre o cotidiano. A diretora também fez questão de incluir o depoimento do escritor pernambucano Augusto Ferraz, muito amigo de Clarice e que promoveu a visita dela ao Recife em 1976, um ano antes de seu falecimento. Filme sensível que amplia o entendimento sobre a personalidade enigmática da escritora e que incita o espectador a pesquisar a grandiosa obra literária de Clarice Lispector.
Fotos: divulgação
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