Diário de uma Busca: documentário afetivo de Flávia Castro

De em agosto 29, 2011

A diretora Flávia Castro resgata história do pai, militante político dos anos 60

Os mistérios que envolveram a morte do militante político Celso Afonso Gay de Castro em 1984, na invasão de um apartamento em Porto Alegre onde morava um ex-nazista, foi o mote para que a diretora gaúcha Flávia Castro realizasse o documentário Diário de uma Busca, que foi premiado nos festivais de cinema do Rio, de Biarritz e de Punta del Este em 2010. A narrativa do filme não é linear: a diretora parte dos noticiários publicados na imprensa sobre a suposta ação de Celso e outro companheiro — que invadiram o apartamento do ex-militar do exército alemão — para resgatar a história de seu pai, o militante do POC (Partido Operário Comunista), que lutou contra a ditadura militar no Brasil nos anos 60 e partiu para o exílio.

Flávia e o irmão Joca: infância passada no exílio com os pais

Flávia confessa, em relato no filme, que sua intenção era o resgate da história de seu pai, mas também de sua história de vida, já que nascera em 1964, meses antes do golpe militar, e sofreu com a partida dos pais, Celso e Sandra Macedo, ambos militantes políticos que foram obrigados a fugir do país. Flávia e seu irmão caçula João Carlos Castro, o Joca, ficaram com as tias e os avós paternos no início, mas depois também se juntaram aos pais no exílio. Os quatro, junto aos demais exilados da facção política a que pertenciam, percorrem diversos países, primeiro Chile, depois Argentina, novamente Chile, para só então partirem para Bélgica e por último a França.
Com depoimentos da mãe, da avó, do irmão, das tias e dos amigos dos pais, Flávia vai construindo a história de Celso, desde a infância em Porto Alegre, passando por sua militância estudantil até o ingresso nas organizações de esquerda e suas ações políticas, além das fases do exílio. Dessa maneira, o documentário ganha ainda mais força, pois ao mostrar a trajetória percorrida por sua família, Diário de uma Busca é o resgate da história dos exilados brasileiros da década de 60. Flávia faz questão de visitar todos os locais por onde esteve com os pais no exílio e assim colhe depoimentos de vizinhos da família na época, antigos militantes políticos que conviveram com seus pais, o embaixador da Argentina em Santiago do Chile (onde eles se refugiaram), o ex-padrasto e a irmã Maria (filha de Celso de outro casamento).
Paralelamente, a diretora também busca elucidar os mistérios da morte do pai. Ouve os agentes policiais que estiveram no apartamento invadido, jornalistas gaúchos que cobriram o caso e a opinião de seus familiares sobre o mistério que envolveu a morte de Celso. A versão oficial é que dois homens vestidos com uniformes de trabalho invadiram o apartamento do ex-nazista: ao ficarem encurralados pela polícia, houve disparos; o morador foi assassinado e os dois se suicidaram. No entanto Celso havia enviado cartas, tanto para a filha como para amigos, em que relata seu arrependimento de ter voltado ao país em 1979, com a anistia, e sua frustração diante do quadro político do país nos anos 80. Ele estava triste e deprimido.
Particularmente, fui pego de surpresa com o filme. Sou mais velho que Flávia poucos anos e perdi meu pai no mesmo período da militância política de Celso Gay de Castro. A ausência do pai na infância, a perda e a incompreensão da criança diante da morte e da vida dos adultos foram os pontos de me identificaram sobremaneira com o documentário de Flávia Castro. Saí da sala de exibição com os olhos marejados e ao mesmo tempo com alívio, graças à catarse vivenciada durante a projeção.

Fotos: Divulgação


2 Comentários

Imad

agosto 31, 2011 @ 20:23

Resposta

Querido Mau,

também assisti ao filme e me comovi bastante. Encontramos nele uma investigação sobre o crime que abalou a diretora- porque envolve o próprio pai dela-, mas também e principalmente um retrato histórico, afetivo e memorialístico que contribui um pouco para o entendimento do Brasil nos anos de chumbo. Não à toa o documentário está recebendo importantes prêmios. Um abraço.

Maurício Mellone

setembro 1, 2011 @ 14:21

Resposta

Imad:
Que bom q vc tb gostou do documentário da Flávia Castro.
VC tem razão: mais do que o personagem ser seu pai, ela realiza um retrato da
época e do mundo dos exilados brasileiros.
Adorei sua visita e seu comentário; venha sempre!
bjs

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