Peça: dizer e não pedir segredo, foto 1

dizer e não pedir segredo: um perfil da homossexualidade no Brasil

De em março 6, 2013

Peça: dizer e não pedir segredo, foto 1

Ronaldo Serruya e Luiz Gustavo Jahjah interpretam mãe e filho num dos relatos emocionantes da peça

Tive o privilégio de assistir ao espetáculo do Teatro Kunyn, dizer e não pedir segredo, na primeira temporada em 2010, quando era apresentado na sala de um apartamento, para uma plateia de no máximo 30 pessoas. Rever a montagem agora depois de quase três anos, com alguns prêmios na carreira e fazendo parte da programação de inauguração do CIT Ecum me proporcionou muita emoção e alegria. Se na estreia o espetáculo já causava impacto por sua proposta inovadora — o relato poético e contundente sobre a realidade de ser gay no Brasil, desde os tempos do descobrimento até os dias atuais —, hoje a montagem está revigorada, justamente pela experiência acumulada da equipe, que viajou por diversas regiões do país e colheu in loco as impressões e histórias das pessoas. Além dos relatos históricos resgatados do livro de João Silvério Trevisan, Devassos no Paraíso – A homossexualidade no Brasil, da Colônia à Atualidade, que serviram de base da pesquisa, o texto da peça (criado de forma colaborativa entre o diretor Luiz Fernando Marques e os atores Ivan Kraut, Luis Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya) constrói um olhar sobre o desejo. E o público torna-se cúmplice e coautor, já que é chamado a participar e dar seu depoimento pessoal.

O envolvimento da plateia é desde a entrada na sala de espetáculo: os atores cumprimentam a todos e oferecem água, refrigerante e guloseimas, deixando o clima aconchegante. Em seguida, os espectadores são convidados a escolher um objeto de cena ou algum adereço do figurino. À medida que os relatos são apresentados, os atores solicitam os objetos que estão com os espectadores e a interatividade se estabelece.
As histórias relatadas sobre a homossexualidade não seguem uma linha cronológica, mas retratam experiências desde o Brasil do Império até hoje.

 

“Há o olhar da criança, que se expressa de maneira libertária, e na medida em que avançamos no tempo, este olhar fica para trás e os valores e preconceitos são introjetados, discutidos e colocados em conflito nas relações familiares, nas relações de classe e nas relações de poder”, afirma o diretor no programa da peça.

Peça: dizer e não pedir segredo, foto 2

Paulo Arcuri dá vida a um garoto que se apaixona por um companheiro do time de futebol

 

As histórias relatadas são alinhavadas e, ao final, os atores distribuem velas e pequenas lanternas aos espectadores e pedem que cada um diga o que sentia em determinada época de suas vidas. Os depoimentos da plateia podem surpreender, pois carregam tanta ou maior emoção que os relatos do texto. Na apresentação em que estive, foram vários espectadores que falavam com voz embargada ou chorando literalmente!
Jahjah, Arcuri, Serruya e toda a equipe do Teatro Kunyn: parabéns e vida longa ao espetáculo dizer e não pedir segredo, que precisa chegar a um número cada vez maior de plateias deste nosso imenso Brasil!

Fotos: Cristina Froment e Adalberto Lima


4 Comentários

Carlos Mendonça

março 6, 2013 @ 22:27

Resposta

A vida entrelaça os dramas, sejam eles artísticos ou sociais. Trazer o espectador à cena pelos seus relatos é tramar a colcha imaginal que nos acolhe e protege das asperezas cotidianas. Em momentos quando pastores arrebanham “Direitos Humanos”, remontar realizações cênicas como esta é vital. Divulgar isto é tão importante quanto!

Maurício Mellone

março 7, 2013 @ 14:09

Resposta

Maco:
obrigado pela força e por palavras tão profundas e verdadeiras.
A magia da arte se reafirma na peça ‘dizer e não pedir segredo’: num dos relatos,
o personagem assiste a um homofóbico sermão televisivo de um pastor evangélico.
E não é que hoje pela manhã o pastor racista e homofóbico foi eleito para a presidência
da comissão de Direitos Humanos da câmara federal! Triste ironia…
Quanta luta ainda temos de travar para garantir os DIREITOS IGUAIS neste país!
Um beijo emocionado, amigo! Muito obrigado pelo incentivo, sempre!

Dinah Sales de Olive

março 6, 2013 @ 18:10

Resposta

Maurício,
Me lembro de vc ter comentado sobre o espetáculo, quando foi apresentado no apartamento.
Não tem um pouco de ‘Luna Lunera’ essa montagem colaborativa da peça?

beijo,
Dinah

Maurício Mellone

março 7, 2013 @ 14:15

Resposta

Dinah:
Já assisti a mais duas outras montagens em que diretor e atores realizam um trabalho colaborativo
“Fã-Clube” e “As Estrelas Cadentes…” (resenhadas aqui no Favo), assim como Luna Lunera e Teatro Kunyn.
É uma tendência forte na produção teatral contemporânea, em que o espetáculo conta com a participação
conjunta da equipe em todas as fases de elaboração.
Se puder assistir a peça do Kuyn, vc vai curtir. Não deixe de ler o profundo comentário do Maco aí em cima do seu!
bjs, obrigado!

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