De Maurício Mellone em novembro 11, 2022
Os fãs da premiada atriz norte-americana Viola Davis, protagonista de A Mulher Rei , podem até imaginar que atrizes e atores nos EUA vivem o glamour de Hollywood, uma vida luxuosa e sem dissabores. No entanto, Viola com seu livro Em busca de mim, lançamento da BestSeller Editora, vem colocar os pingos nos is. No livro, ela é direta, objetiva e descreve sem rodeios ou subterfúgios toda a sua trajetória, desde a fase de extrema pobreza em que vivia com os pais e seus cinco irmãos na cidade de Central Falls, no estado de Rhode Islasnd, sua formação e formatura profissional sempre com muita dificuldade, até a fase dos testes, as recusas, o preconceito, os primeiros trabalhos no teatro, TV e cinema e os primeiros sucessos, seguidos de prêmios.
Mais do que demonstrar as reais dificuldades para sobreviver na carreira artística, Viola fala das suas próprias limitações, seus fantasmas. E na orelha do livro confessa:
“Em busca de mim é uma reflexão profunda, uma promessa e uma declaração de amor a mim mesma. Espero que minha história inspire o leitor a revolucionar sua vida de forma criativa.”
Hoje aos 57 anos Viola Davis é o retrato do sucesso e detentora de uma marca surpreendente em seu país: obteve a tríplice coroa de atuação, ou seja, venceu os principais prêmios no cinema, na TV e no teatro, Oscar, Emmy e Tony, respectivamente. No entanto, como deixa claro no livro, as conquistas são fruto de muito esforço e luta contra o preconceito. Viola diz que além de ser pobre e negra, há outro ingrediente discriminatório, o tom de sua pele:
“Eu sou negra! Sou retinta com lábios carnudos, nariz largo e coxas grossas. Sou Viola!”
Nos primeiros capítulos o leitor entende a razão de tanta luta. De forma direta, Viola descreve a condição de miserabilidade em que vivia a família Davis e o horror de assistir o pai alcoolizado espancar a mãe. O abuso porque que passou também é relatado, assim como as dificuldades para estudar. Mesmo com as agressões dos garotos racistas, a escola era um refúgio justamente por ser a única maneira de ascensão.
Viola conta com detalhes sobre sua formação profissional e a batalha para conseguir seus primeiros papéis no teatro. Além de precisar superar suas limitações e dilemas interiores, ela é pragmática ao analisar as condições de ser artista em seu país — imagine se ela soubesse a realidade brasileira!
“Nossa profissão, a qualquer momento, tem uma taxa de 95% de desemprego. Apenas 1% dos atores ganha 50 mil dólares ou mais por ano, e apenas quatro em cada 10 mil são famosos, e nem vamos definir o que é fama aqui. Esses quatro entre os 10 mil são as histórias que chegam à mídia.”
Em sua narrativa, Viola relata as conquistas na carreira em paralelo com a vida pessoal, como as mudanças de residências e com quem dividias os quartos, seus problemas de saúde, seus casos amorosos e o encontro definitivo com Julius, com que está casada. Emociona a forma como ela fala do marido:
“Assim que Julius entrou na minha vida ela melhorou porque criei uma família com ele.”
Há passagens comoventes na vida e na carreira de Viola, que ela descreve com riqueza de detalhes. O sucesso é descrito como consequência de muito trabalho e aprendizado. Com humildade ela fala de seu encontro com grandes atrizes, atores e diretores. E tem uma visão profunda da arte:
“Seven Guitar (peça de seu primeiro sucesso) foi uma etapa significativa do meu crescimento como atriz. Também me ensinou muito sobre a vida.”
“O obstáculo em meu caminho era um sistema de opressão racista de quatrocentos anos e meu sentimento de profunda solidão. Minha arte, nesse sentido, era a melhor ferramenta de cura para resolver meu passado, a melhor arma que eu tinha para conquistar meu presente e minha dádiva para o futuro!”
Os fãs de Viola Davis têm em seu livro fonte de inspiração e conhecimento; quem gosta de biografias está diante de uma obra instigante, graças à narrativa envolvente e precisa. Particularmente tenho restrição à tradução, já que algumas frases parecem ter sido traduzidas de forma literal, dificultando a compreensão. Algumas idéias ficam confusas. No entanto, o relato sincero de Viola Davis sobre sua vida é o que cativa o leitor. Termino a resenha com a definição da autora sobre o que é ser ator/atriz:
“O trabalho de um ator é ser um observador da vida. Estudo pessoas o máximo que posso…
… Afinal de contas, somos um canal, um condutor de pessoas.
…A escultura imperfeita mas abençoada que é Viola ainda está se desenvolvendo e sendo lapidada.
Sou artista.”
Ficha técnica:
Título: Em busca de mim
Autora: Viola Davis
Editora: Best Seller
Página: 266
Preço: R$ 49,90
Fotos: divulgação
2 Comentários
Nanete Neves
novembro 11, 2022 @ 17:36
Gostei da autobio, ela revela muito. Só senti que faltou edição. E concordo que a tradução foi meio preguiçosa. Mesmo assim, é excelente leitura e uma aula do que é ser uma negra retinha.
Maurício Mellone
novembro 13, 2022 @ 11:05
Nanete, querida:
Tb concordo com vc sobre a edição.
Mas, sem dúvida, um relato comovente
Beijos