Monólogo de Luiz Fernando Almeida denuncia violência sexual contra garotos e adolescentes

Com uma proposta ousada e um tema de grande impacto social, o ator santista Luiz Fernando Almeida está de volta a São Paulo com seu novo solo, O filho da Geni, em que denuncia a violência sexual contra garotos e adolescentes. O texto é baseado em extensa pesquisa e entrevistas realizadas com vítimas de abuso sexual infantil no Brasil e na Europa durante cerca de três anos.

Com dramaturgia de Diego Lourenço e direção de Matheus Lipari, o espetáculo cumpre duas temporadas na cidade: a primeira na SP Escola de Teatro até 1º de setembro e a segunda no Espaço O Andar de 05 a 27 de setembro. Sempre com ingressos gratuitos.

Matheus Lipari dirige o solo de Luiz Fernando

Formado pelo CPT (Centro de Pesquisa Teatral Sesc São Paulo) e com mais de 30 anos de carreira, Luiz Fernando vem se especializando em trabalhos solo, sempre com atuações viscerais, como no clássico de Caio Fernando Abreu, Dama da Noite, e Gotas de Codeína, em que nascia a parceria com o dramaturgo Diego Lourenço e a discussão central girava em torno do suicídio.

Desta vez, para retratar o abuso e violência sexual contra garotos e adolescentes, o dramaturgo reuniu as histórias coletadas num único caso, o do rapaz que resolve voltar ao Brasil depois de anos de trabalho em condição de subemprego pela Europa e enfrentar os traumas sexuais causados no passado.

“Muitas das vítimas de abuso sexual infantil arrastam essa experiência ao longo de suas vidas como um fardo que não são capazes de descartar. Além disso, em muitos casos, o trauma afeta de maneira disfarçada: a pessoa não se sente bem, mas não consegue identificar o porquê”, esclarece Luiz Fernando.

Texto baseado em pesquisas e histórias reais

De acordo com dados de 2019 do relatório Disque 100 — canal de denúncias mantido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos — apenas 18% dos registros de violência sexual contra crianças e adolescentes se referia a vítimas do sexo masculino e 46% atingindo as meninas. Há uma visível subnotificação de abusos contra meninos.

“As mulheres estão emergindo progressiva e dolorosamente da cultura do silêncio pela qual esse tipo de abuso sexual está cercado. Mas as vítimas masculinas de abuso sexual na infância estão apenas começando a denunciar o que há muito silenciaram. Nossa cultura não abre espaço para o homem como vítima. Aqueles que viveram esta situação sentem-se feminilizados, castrados, com vergonha e a sensação de terem deixado de pertencer ao gênero masculino”, argumenta o ator.

Com plateia de no máximo 60 pessoas, a montagem coloca o espectador como cúmplice do drama vivido pelo personagem. A canção de Chico Buarque, Geni e o Zepelin, composta para o musical Ópera do Malandro, executada no iníco é ilustrativa e remete ao que aquele garoto/adolescente irá viver, ou seja, o abuso sexual e o consequente desprezo. Além do texto contundente e que provoca reflexão, o destaque do espetáculo fica para o desempenho e perfomance de Luiz Fernando Almeida. Confira!

Roteiro:
O Filho da Geni. Idealização e atuação: Luiz Fernando Almeida. Direção: Matheus Lipari. Dramaturgia: Diego Lourenço. Trilha original: Marcos Ozi. Iluminação: Juliana Sousa. Figurino: Mário Francisco. Fotografia: Thiago Santana. Produção executiva: Luiz Fernando Almeida. Realização: PROAC e Cafofo Produções.
Serviços:
SP Escola de Teatro (60 lugares), Pr. Franklin Roosevelt, 210, tel. 11 3775-8600. Horários: sexta e sábado às 20h30 e domingo às 18h. Ingressos: gratuitos. Venda: Sympla. Duração: 60 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 01/09/2024.
Espaço O Andar (50 lugares), R. Dr. Gabriel dos Santos, 30, 2º andar, tel. 11 3666-6138. Horários: quinta e sexta às 20h30. Ingressos: gratuitos. Temporada: de 05 a 27 de setembro.