De Maurício Mellone em novembro 17, 2022
Acaba de estrear no Cinema da Fundação o filme de Marcelo Gomes, Paloma, grande vencedor do Festival do Rio/2022, em que recebeu dois troféus, um da competição principal e outro da mostra de filmes de temática LGBTQI+, além de melhor atriz para Kika Sena, protagonista do filme pernambucano.
A trama gira em torno do cotidiano de Paloma, uma trabalhadora do campo, analfabeta, negra, nordestina e transexual que vive em paz com seu namorado Zé, interpretado por Ridson Reis, e sua filhinha. No entanto, como é muito religiosa, quer se casar na igreja como manda o figurino, com vestido de noiva, véu e grinalda. Mal sabe ela que para realizar seu sonho terá que enfrentar os dogmas conservadores da igreja católica e o preconceito da hipócrita sociedade onde vive.
Com delicadeza o diretor inicia o filme revelando a relação harmoniosa que Paloma mantém com Zé: eles se amam e há respeito entre eles. Ela se esforça para manter a filhinha a seu lado, apesar das dificuldades que enfrenta por causa da longa carga horária. Paloma trabalha no campo, colhendo frutas numa fazenda e conta com as amigas do bordel para ficar com a filha até ela chegar da roça.
Mesmo estando em paz com o namorado, Paloma, por ter muita fé, quer se cassar na igreja e receber as bênçãos divinas. É neste momento que sua vida se transforma: o padre (Buda Lira) diz que não tem autorização para celebrar a cerimônia e Paloma resolve apelar ao Papa. Com a negativa do Vaticano, ela não se cansa até conseguir o que deseja.
O roteiro — assinado pelo diretor e por Armando Praça e Gustavo Campos — é inspirado em história real e construído de maneira gradativa: o espectador aos poucos tem ciência da luta de Paloma pela felicidade e passa a ser seu cúmplice. Ela só deseja se casar com o homem que ama e cuidar da filha. Que transgressão há nisto? Nenhuma! O fato de ser uma mulher trans é que põe a nu as contradições da sociedade em que vivemos: até o momento em que ela vive sua relação amorosa restrita a seu lar, não há problema. Mas quando resolve exercer sua liberdade de ir e vir e quer o reconhecimento oficial de seu casamento, o preconceito social vem à tona e mostra suas garras (a cena na piscina do clube é a primeira reação discriminatória, sutil, mas já presente).
A partir deste momento, os roteiristas não poupam o espectador: num país que mais mata pessoas da comunidade LGBTQI+, a violência insana às travestis é mostrada pelo caso da amiga de Paloma, vivida por Wescla Vasconcelos. Com a intolerância e o desrespeito que sofre, Paloma desabafa com o namorado, com um discurso contundente e atual, que emociona!
Assisti ao filme na semana de estreia e fiquei feliz com os aplausos da plateia ao final da projeção. Além de um roteiro bem estruturado, há cenas de uma beleza ímpar. E o grande destaque é para a interpretação de Kika Sena, que constrói sua personagem com garra e verdade. Não perca!
Fotos: divulgação
6 Comentários
Fatima Bulcao
novembro 18, 2022 @ 12:09
Adorei sua resenha!:com certeza irei assistir! Pena haver apenas um horário de exibição!
Maurício Mellone
novembro 18, 2022 @ 14:56
Fatima:
Que bom q vc gostou da resenha.
Te mandei mensagem pelo WhatsApp
com as sessões do filme neste
final de semana
Tomara q vc vá e goste do filme
Bjs, volte sempre me visitar aqui!!!!!
Dinah Sales de Oliveira
novembro 17, 2022 @ 19:38
Maurício,
Vou ver se consigo ir no final de semana, depois trocamos impressões.
beijos saudosos também.
Maurício Mellone
novembro 18, 2022 @ 14:57
Dinah,
vou adorar trocar impressões sobre
Paloma com vc!!!!
Beijos
Dinah
novembro 17, 2022 @ 19:09
Bom saber, Maurício, que a plateia aplaudiu o filme. Tô em dívida com o cinema nacional, pq quero ver esse filme e outros que estão em cartaz (como Carvão).
Gostei muito da resenha!
Beijos,
Dinah
Maurício Mellone
novembro 17, 2022 @ 19:18
Dinah, querida:
Não assisti ainda Carvão, está aqui e vou assistir;
obrigado, se puder assistir Paloma, vc vai curtir e se emocionar!
Beijos, saudades!!!!!