Eu, um outro: documentário sobre a vida de três homens trans no Brasil

De em novembro 21, 2022

Documentário da mineira Sílvia Godinho

 

 

 

Num país que mais se mata pessoas da comunidade LGBTQI+, a diretora e roteirista mineira Sílvia Godinho resolveu retratar em seu documentário, Eu, um outro, o cotidiano de três homens trans que já fizeram a transição de gênero e desejam apenas ser felizes.

 

O filme, realizado em 2019 em parceria com a Oficina de Criação, com produção Claudia Santos e distribuição da O2 Play, já percorreu festivais internacionais e brasileiros e só agora chega às salas de exibição no país;  no Recife está em cartaz no Cinema da Fundação.
O roteiro acompanha a trajetória do influenciador digital Luca Scarpelli, que volta a Belo Horizonte para uma consulta médica e rever amigos e familiares, além de mostrar como vive Raul Capistrano, que estuda filosofia e pretende seguir a carreira acadêmica, e o segurança Thalles Rocha, que está no processo para troca de nome de batismo em seus documentos.

 

 

 

 

Luca Scarpelli , influenciador digital

 

A história que abre o filme é a de Luca: a câmera o acompanha em sua chegada a BH, depois de 12 anos fora da cidade. Ele revê o irmão, vão a um treino na academia e marcam uma balada à noite. Luca é paquerado por um rapaz e antes de qualquer coisa ele avisa que é um homem trans. É desta maneira que o espectador começa a se inteirar da proposta da cineasta, ou seja, ao mesmo tempo em que revela as diferenças entre as pessoas, mostra como somos iguais em sentimentos, ambições e desejos. Silvia quer provocar a empatia entre o público e os retratados de seu documentário.

 

 

 

 

 

 

 

Raul Capistrano, estudante de filosofia

 

As experiências de vida de Raul e de Thalles são apresentadas de maneira intercalada à de Luca; assim o espectador vai montando o quebra cabeça das trajetórias dos três. Raul mora no mesmo prédio em que Luca está hospedado e que Thalles é o segurança. De acordo com a diretora, ela acompanhou Raul e Thalles durante seis meses, até que eles se acostumassem com a câmera e as cenas se tornassem naturais. Luca, por ser influenciador digital, tem familiaridade com filmagens.

 

 

 

 

 

“Por essa naturalidade que conseguimos o resultado do filme, em que o espectador passa a ter dúvida se está diante de um documentário ou de filme de ficção”, esclarece Sílvia Godinho.

 

 

 

 

 

 

Thalles Rocha, segurança

 

Acredito que a dúvida entre documentário e ficção só contribui para que o espectador se entregue às narrativas e haja envolvimento. Impossível não ficar solidário a Raul quando ele expõe para a sua mulher sobre o preconceito dos familiares dela. A incompreensão de Thales e de sua mãe é a mesma do espectador diante da burocracia do cartório em acatar o dispositivo do Supremo Tribunal Federal sobre a adoção de nomes sociais nos documentos. E a dor de Luca ao ser rejeitado pela garota que ele sempre amou também comove a plateia. A empatia, desejo da diretora, fica evidente, inconteste.

 

 

 

 

 

 

 

Com roteiro bem articulado, vejo um único senão no documentário: o desfecho é repentino, não há uma cena final que interligue as três histórias, por mais que as questões de Thalles, Raul e Luca tenham sido levantadas e espectador possa refletir sobre elas. Não concluir talvez seja a intenção da cineasta, mas senti falta de um arremate. Confira, as histórias destes rapazes são tocantes.

 

 

 

 

 

 

 

Fotos: divulgação


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