De Maurício Mellone em novembro 6, 2013
Depois de temporada de sucesso no Sesc Ipiranga, a atriz Jandira Maritni apresenta até 13 de dezembro o monólogo Prof! Profa!, no Teatro Eva Herz (link). Pela primeira vez Jandira sobe ao palco sozinha e para isto recebeu o apoio do amigo Celso Nunes, que a dirigiu por diversas vezes, inclusive no início de carreira de ambos, nos anos 60. No texto crítico e corrosivo do belga Jean-Pierre Dopagne (dramaturgo e catedrático da Universidade de Bruxelas), uma professora de literatura dá uma guinada na carreira e deixa a sala de aula para pisar nos palcos contando sua história de vida. A plateia funciona tanto como espectador da peça como aluno da professora/atriz: aos poucos percebe-se a razão da mudança de carreira da professora e o que a levou aos palcos.
Somente com uma mesa, uma cadeira e um mancebo, a atriz entra com uma pasta e dá início ao jogo cênico: parece que é a entrada de uma professora diante da sala repleta de alunos, ou pode ser o início de uma peça.
“Houve um tempo…”
Com este tom melancólico é que a professora conta que antigamente os mestres eram recebidos com respeito pelos alunos, que por sua vez tinham interesse pelo saber. Houve um tempo… Mas hoje a realidade é outra e a ‘profa’ vai discorrendo seu desalento com a profissão e o enfado de enfrentar “crianças que não pensam, agem como animais”, segundo a personagem.
Um mistério envolve a vida da professora, que aos poucos vai sendo desvendado: aquela mulher é uma profissional desiludida ou uma criminosa de alta periculosidade? O relato da professora é verdadeiro ou tudo não passa de um enredo ficcional?
“Por ser catedrático e ter experiência no ensino, Dopagne criou um texto instigante, cínico e bem-humorado. Educada em outros tempos, a personagem é seduzida pelo saber e tenta passar aos alunos seus valores. No entanto, ela não se dá conta de que os tempos são outros, passa de vítima a protagonista da violência no meio escolar. O crime é consequência de seu amor à profissão e de sua desilusão como vem sendo tratado o ensino”, explica a atriz.
Para o diretor, somos todos um pouco professores, um pouco alunos durante a vida, da mesma forma como somos pais e filhos, mandões e mandados:
“A peça aborda a vida sob todos esses ângulos, colocando-nos face a face com a ética e a falta dela, com o humano e o desumano, com o instinto e a razão, com o fracasso e o sucesso. Tudo isto num tom de comédia que diverte e faz pensar”, argumenta Celso Nunes.
Além de um texto com enigmas que exige a atenção do espectador, Prof! Profa! se destaca pela brilhante atuação de Jandira Martini, que mostra com versatilidade as diversas vozes e as variadas nuances da trama. Cenário e figurino de Márcio Tadeu e iluminação de Wagner Freire também merecem destaque, além da direção impecável de Celso Nunes. Mais uma produção esmerada e emocionante da Mesa2, de Fernando Cardoso e Roberto Monteiro.
Fotos: João Caldas
2 Comentários
Ed Paiva
novembro 8, 2013 @ 00:58
Maurício, pude assistir a peça “Prof! Profa!” hoje e comprovar o talento de Jandira Martini. O jogo que se cria entre a personagem e a plateia é muito interessante. Embora o texto seja de um autor belga, é impossível não relacionarmos as situações apresentadas com a realidade educacional brasileira.
E sua resenha está ótima. Permite refletirmos ainda mais sobre a peça.
Maurício Mellone
novembro 8, 2013 @ 08:56
Ed:
Vc observou muito bem: mesmo sendo de um autor belga,
a peça traça um paralelo exato da realidade do
ensino no Brasil. Infelizmente nossas/os ‘crianças/adolescentes’
agem como a descrição da peça……
Muito obrigado pelo incentivo, constante!
bjs