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Ilustração de Ricardo Castro

Tarde de sábado chuvosa, com um friozinho do outono paulistano, fui surpreendido na academia com uma pergunta vinda de um garoto:

— É bom ser adulto?

Depois de uma bela risada, respondi perguntando:

— Mas não é bom ser criança?

O garoto, muito falante e desembaraçado para os seus pouco mais de 10 anos, respondeu divagando que ser adulto “deve ser muito bom!”
Novamente devolvo a bola, perguntando o porquê. Ele mais do que depressa responde:
— Por que não precisa mais estudar!

Rio novamente e digo que adulto não precisa mesmo mais estudar, mas precisa trabalhar. Sem rodeios ou qualquer dificuldade para rebater-me, o menino diz que para ele não vai ser nada chato trabalhar, pois será um cantor.
Ensimesmado, pude rir muito com o garoto, que logo estava pronto para ir embora, mas fez questão de perguntar meu nome. Disse com naturalidade e agora era ele que caía na gargalhada. Pergunto por que estava rindo e ele me diz:

—Esse é o nome do meu pai!

Não podia deixar que fosse embora sem saber seu nome. Ele diz com belo sorriso no rosto:

— Nicolas, e se despede educadamente, demonstrando mais uma vez que no fundo tem muito mais experiência de vida do que aparenta sua idade cronológica.

Depois desse agradável diálogo, voltei-me para minhas reflexões. Tinha acabado de sair da piscina, de um treinamento regular auto-imposto, justamente na semana em que mais um sinal dos anos acumulados nas costas tinha aparecido na minha vida. Depois de meses monitorando o funcionamento irregular da tireoide, minha médica havia receitado o medicamento que irá me acompanhar pelo resto de meus dias!
Com o compromisso de me manter saudável e com o mínimo de controle sobre a crise dos “enta”, fui pego de calças curtas pelo Nicolas!

Se estou preocupado em envelhecer, ou pelo menos chegar sem solavancos à tal da melhor idade — mantenho rígido controle alimentar, bebidas alcoólicas só com moderação, além da prática regular de exercícios físicos —, o garoto sonha de olhos abertos com a vida adulta! Alegre ironia!
Só mesmo o poeta para me tirar desse beco com infindáveis saídas! Fui correndo ouvir a canção de Carlos Renó, brilhantemente interpretada por Ney Matogrosso, Lema:

“Envelhecer
Certamente com a mente sã
Me renovando
Dia a dia, a cada manhã
Tendo prazer

Me mantendo com o corpo são
Eis o meu lema
Meu emblema, eis o meu refrão”.

Nicolas, ser adulto é saber envelhecer. Vamos juntos chegar lá?

Ilustração: Ricardo Castro

  • abril 6, 2011
  • 10 Comentários
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