De Maurício Mellone em julho 5, 2018
A peça À Espera, do dramaturgo paulista Sérgio Roveri, não só pelo título, mas principalmente pela proposta dramática, se aproxima do clássico texto do irlandês Samuel Beckett, Esperando Godot, em que dois vagabundos esperam infinitamente pela chegada de um senhor que nunca aparece. De uma situação irreal e absurda, o autor desmascara o mundo caótico em que se vive.
Na montagem de Roveri — em cartaz até 21 de julho na Oficina Cultural Oswald de Andrade — duas mulheres sem memória estão presas num local indecifrável e recebem a visita de um homem que vem comemorar um aniversário. O que as mantém ali, quem é o visitante, qual a relação entre eles, qual o propósito deste encontro, o que esperam. São tantas as questões provocativas lançadas que o espectador sai do teatro obrigado a refletir sobre o instante caótico e incompreensível em que vivemos hoje. Com Regina Maria Remencius, Ella Bellissoni e Jean Dandrah.
Situação inusitada e personagens totalmente irreais: tudo começa com as duas mulheres ao amanhecer; enquanto Uma, a mais velha vivida por Regina, não anda (vive em cadeira de rodas), não dorme e passa a noite contando os pingos da torneira, a Outra, interpretada por Ella, tem sonhos e ao acordar conta tudo para a amiga. Ambas não têm memória, desconhecem o porquê de estarem ali e esperam que um dia tudo se esclareça. O que rompe a rotina delas é quando Ele, papel de Jean, chega e avisa que veio para uma comemoração: trouxe duas garrafas de bebida, quer festejar com elas e ouvir histórias. Aproveitando que Uma terá companhia, Outra resolve sair e conhecer a realidade exterior.
“Esta peça induz à reflexão, ela não reafirma certezas, propõe questionamentos sobre nossos posicionamentos diante da vida, fazendo do teatro um espaço de reflexão crítica sobre a realidade. A falta de memória — dos personagens assim como da nossa história — nos impossibilita de construirmos uma identidade e decidirmos o nosso destino”, argumenta o diretor Hugo Coelho.
Nada como o absurdo, o nonsense e o irreal para incitar o espectador a refletir sobre a realidade e o caos em que o mundo se encontra. Impossível sair ileso do espetáculo diante desta dramaturgia provocativa. Com uma direção precisa, À Espera também se destaca pela sintonia em cena de Regina Remencius e Ella Bellissoni e pela integração entre iluminação, assinada por Fran Barros, e sonorização, de Ricardo Severo e Rafael Thomazini, que enfatizam o tom misterioso e enigmático da trama. Destaque ainda para a maquiagem e caracterização dos personagens, assinada por Adriana Vaz Ramos. Neste mês, sessões extras às segundas. Não perca.
Roteiro:
À Espera. Texto: Sérgio Roveri. Direção: Hugo Coelho. Elenco: Ella Bellissoni, Jean Dandrah e Regina Maria Remencius. Cenário: David Schumaker. Iluminação: Fran Barros. Música original, produção musical e desenho de som: Ricardo Severo e Rafael Thomazini. Assistência de direção: Fernanda Lorenzoni e Larissa Matheus. Direção de produção: Fernanda Moura. Produção: Palimpsesto Prod. Artísticas. Fotografia: Heloísa Bortz. Realização: Ella Bellissoni, RMR Produção Artística e Núcleo 137.
Serviço:
Oficina Cultural Oswald de Andrade (30 lugares), Rua Três Rios, 363, tel. 11 32215558. Horários: quinta e sexta às 20h e sábado às 18h (apresentações extras 2, 9 e 16 de julho, às 20h). Ingressos: gratuitos. Duração: 60 min. Classificação: de 14 anos. Temporada: até 21 de julho.
4 Comentários
Lucia Bellini
julho 6, 2018 @ 17:39
Fantástico texto e as interpretações. Vale a pena conferir!
Maurício Mellone
julho 10, 2018 @ 10:56
Lucia,
obrigado pela visita ao Favo.
O livro do Marlon agrada a todos, a história é emocinante.
O autor já tem novo livro na praça: procure pelo Marlon
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abr
Dinah
julho 5, 2018 @ 17:53
Pela resenha, parece bem interessante, Maurício, e tô me devendo várias sessões de teatro (e de cinema)!
Maurício Mellone
julho 6, 2018 @ 10:04
Dinah,
Proposta ousada do Sérgio Roveri, vale a pena conferir.
Obrigado por sua presença sempre constante por aqui!
Bjs