De Maurício Mellone em agosto 10, 2018
O dramaturgo canadense Brad Fraser — conhecido no Brasil pelo filme do também canadense Denys Arcand, Amor e restos humanos/1993 (versão de sua peça homônima), e pela peça Pobre super-homem/2000, dirigida por Sérgio Ferrara — tem novamente um de seus textos encenados no país. Cobra na Geladeira, inédita por aqui, acaba de estrear no CCSP pelas mãos do ator e diretor Marco Antônio Pâmio, que atou na produção de Ferrara e também dirigiu Amor e restos humanos em 2008. Desta vez Pâmio assina a tradução e dirige um elenco de jovens atores.
Considerado um dos expoentes da dramaturgia canadense, Fraser retrata em sua obra o universo de personagens sombrios que tentam sobreviver na precária e conturbada sociedade dos nossos dias. Nesta trama, sete jovens dividem uma casa velha e mal-assombrada, num universo de consumismo desenfreado, prostituição, dependência química e violência, em que todos lutam pela sobrevivência e tentam se adequar à sociedade.
Com uma linguagem ágil e cenas curtas sobre o universo dos personagens envolvidos naquela casa, o autor envolve o espectador, que vai aos poucos montando o quebra cabeça da trama. Há desde a garota que vive em seu mundo interior (foi abusada na infância), a outra que é striper e depois se envolve com prostituição, o casal em que o rapaz é cafetão, até o estudante que cede aos apelos da prostituição e seu amigo, que para bancar o uso excessivo de drogas, comete todo tipo de contravenção.
“A peça fala sobre esta característica dos relacionamentos contemporâneos, estes relacionamentos líquidos, onde tudo é descartável, tudo é mercadoria, desde algo material até o afeto e o relacionamento humano. Fraser fala desta juventude sem rumo, perdida e banhada por tanta informação, mas que está solitária e coisificando tudo. Ao mesmo tempo, a peça é de suspense e terror, com todos imersos naquela casa esquisita e sobrenatural”, explica o diretor.
Além dos sete moradores daquela república, a dona do local e o traficante, há dois personagens da trama, no mínimo peculiares: a cobra que é colocada na geladeira logo na primeira cena e depois desaparece deixando a todos apreensivos e a própria casa, que guarda mistérios e segredos.
Mais do que uma dramaturgia eletrizante e provocativa, a montagem se destaca também pela concepção cênica do diretor: não há divisórias para identificar os cômodos do casarão, que são definidos pelos móveis dispostos no palco; a iluminação é outro elemento fundamental para a condução da trama, principalmente nas cenas do porão e nos efeitos sobrenaturais da casa. Com um elenco jovem, a composição de Regina Maria Remencius para a poderosa empresária da indústria do sexo merece ser ressaltada, assim como a atuação de Tailine Ribeiro, que vive a sensível Sarah. Confira, a temporada se estende até setembro.
Roteiro:
Cobra na Geladeira. Texto: Brad Fraser.Tradução e direção: Marco Antônio Pâmio. Elenco: Esdras de Lúcia, Felipe Hofstatter, Gustavo Moura, Juliane Arguello, Lui Vizotto, Marina Possebon, Regina Maria Remencius, Rodrigo Basso e Tailine Ribeiro. Iluminação: Wagner Antônio. Figurino: Fábio Namatame. Cenografia: Duda Arruk. Trilha sonora: Ricardo Severo e Marco Antônio Pâmio. Fotografia: Gal Oppido. Produção: Valentina Produções. Coordenação de produção: Taís Somaio.
Serviço:
Centro Cultural São Paulo, Sala Jardel Filho, Rua Vergueiro, 1000, tel. 11 3397-4002. Horários: sexta e sábado às 21h e domingo às 20h. Ingressos: R$ 30 e R$ 15. Bilheteria: de terça a sábado, das 13h às 21h30; domingo das 13h às 20h30. Duração: 120 min. Classificação: 16 anos Temporada: até 16 de setembro.
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