Filme: A Voz do Silêncio, foto 1

A voz do silêncio: a dura realidade de nove personagens numa metrópole

De em dezembro 5, 2018

Filme: A Voz do Silêncio, foto 1

Cartaz do filme que venceu dois troféus no Festival de Gramado/18: direção e montagem

Em seu terceiro longa-metragem, A voz do silêncio, o diretor André Ristum faz um grande painel sobre as dificuldades de se viver numa grande metrópole como São Paulo nos dias atuais. Tendo como personagem central a cidade, o foco recai sobre o cotidiano de nove personagens que pouco ou quase nada se interagem; cada um deles, em seu reduto, luta pela sobrevivência, sem tempo nem para expressar sua afetividade.

As histórias dos personagens vão sendo contadas alternadamente e o espectador é instigado a montar o grande quebra-cabeça, que na verdade resume a realidade da vida num centro cosmopolita do século XXI. Destaque para a atuação de Marieta Severo — que vive uma idosa enclausurada em seu apartamento e que se recusa inclusive a tratar de uma ferida na perna —, além de Cláudio Jaborandy, Ricardo Merkin e Marat Descartes.

Filme: A Voz do Silêncio, foto 2

Atrito: Raquel (Stephanie de Jongh) e a mãe, vivida por Marieta Severo

 

Nas cenas iniciais a câmera faz um passeio pela cidade, não mostrando os pontos turísticos de São Paulo, mas retratando o ir e vir das pessoas, dentro dos carros nos congestionamentos, dentro de ônibus, metrô e trem e nas calçadas, também congestionadas. Aos poucos os personagens vão sendo identificados e seus dramas, conhecidos. Maria Cláudia (Marieta) passa o dia bebendo latas e mais latas de cerveja diante da TV e nem se importa que a filha Raquel (Stephanie de Jongh) pra sobreviver precisa dançar numa boate de strip-tease e sufocar o sonho de se tornar cantora; a velha só se alegra ao ler os cartões postais de várias cidades pelo mundo que o filho Alex (Arlindo Lopes) lhe envia — na verdade a mãe o expulsou de casa por ser gay e ele vive na periferia, ganhando a vida como atendente de telemarketing.

 

Já Rui (Merkin) é um radialista e amante de música clássica, mas está em início de demência e sofre pelo sumiço da filha (Marina Glezer) e do neto de 9 anos (Enzo Barone), por quem tem paixão. Outra figura marcante da trama é Odilon, vivido por Jaborandy, um trabalhador típico da metrópole: ele se divide entre a portaria do edifício onde mora o radialista e o restaurante japonês, onde à noite é sushiman e é maltratado pelo patrão (Nicola Siri); Odilon ainda arranja tempo para cursar faculdade nos finais de semana. O personagem de Marat Descartes encarna a vilania, desde o assédio no ambiente de trabalho até extorquir clientes ao exigir o pagamento de aluguéis atrasados.

Filme: A Voz do Silêncio, foto 3

Cláudio Jaborandy vive porteiro do prédio de Rui (Ricardo Merkin)

Ao apresentar o dia a dia dos personagens, Ristum, que divide o roteiro com Marco Dutra, toca em temas muito em voga atualmente, como fundamentalismo religioso na TV, prostituição, homofobia, assédio sexual, abuso de patrões, desemprego, solidão e envelhecimento. No entanto, o que mais me chamou a atenção na trama é a falta de amor ou no mínimo a dificuldade que as pessoas hoje em dia têm de expressar seus sentimentos aos entes mais próximos. Isto fica claro durante todo o desenrolar da trama, tanto que falar ‘eu te amo’ somente alguns personagens conseguem dizer, e só no final da história. Outros, nem conseguem! Por isso que a canção de Criolo, Não existe amor em SP, (incluída na trilha) é tão emblemática para o filme.

 

 

 

A produção faturou dois Kikitos no Festival de Gramado/18, montagem e direção. Não deixe de conferir; como aperitivo, fique com o clipe da música do Criolo:

 

 

 

Fotos: divulgação


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