Renata Sorrah e a companhia brasileira de teatro encenam espetáculo criativo de Marcio Abreu

Com temporada programada até início de dezembro, acaba de estrear no Teatro do Sesi/SP o mais novo trabalho da companhia brasileira de teatro, AO VIVO [dentro da cabeça de alguém], com texto e direção de Marcio Abreu, e elenco liderado por Renata Sorrah, que divide a cena com Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Bárbara Arakaki e Bianca Manicongo.

Em síntese, a peça é a transposição ao palco da memória de uma atriz e parte da pesquisa da companhia — realizada pelo diretor e por Nadja Naira, Cássia Damasceno e José Maria —, tendo como base a peça A Gaivota, de Anton Tchekhov, e suas relações com os tempos atuais. O espetáculo convida o espectador a entrar dentro da cabeça dos artistas e assim conhecer suas memórias, seus sonhos e as projeções de futuro.

Trama é a transposição ao palco da memória de atrizes e atores

O espetáculo começa com a entrada de Renata, que vem do fundo e se posiciona no meio do palco, à frente de uma grande tela. Ela começa a fazer gestos e expressões sem uma única palavra; em seguida repete os mesmos gestos e expressões só que agora explicando cada um desses atos. O espectador compreende que se trata de uma atriz exercendo seu ofício, o da arte de interpretar. Outra atriz entra e ambas repetem os mesmos atos.

Este pequeno prólogo (retomado ao final do espetáculo com todo o elenco) sintetiza a proposta do trabalho, que a própria Renata explica. Nos anos 1970, num dia em que ela estava no carro a caminho dos ensaios da peça A Gaivota, algo aconteceu como uma epifania: foi como se o centro de sua cabeça tivesse se aberto e a partir de então ela tivesse consciência de tudo, de sua conexão com o universo, de sua relação com os outros, com o passado, o presente e o futuro e de sua relação com a arte. Todas as coisas ficaram claras, nítidas. Mas depois de um determinado tempo, o centro de sua cabeça se fecha e tudo volta ao normal.

Rafael Bacelar em performance como drag

O que acontece no palco a partir deste momento se refere a este entendimento da atriz, do que se passa dentro na cabeça dela e de todos os demais colegas de cena. Cada um dos atores tem um espaço para se expressar e desenvolver sua cena por meio de suas memórias, sonhos e experiências de vida. Há o depoimento da atriz/cantora e sua realidade de mulher trans ou a do ator que tem como personagem uma drag — momentos de grande conexão com a plateia, que responde com muitos aplausos. Renata também é ovacionada após a leitura de uma relação extensa de fatos históricos recentes, de fatos pessoais e de momentos marcantes da humanidade.

Bianca Manicongo: depoimento emocionante

“O público é convidado a percorrer uma lógica de sonho ou de memória, não exatamente no sentido onírico, mas como a gente formula o pensamento, como a memória não tem só a ver com o passado, mas como é um campo ativo de produção de sentidos e também de projeção para possíveis futuros”, explica Marcio Abreu.

Renata Sorrah e seus colegas de cena agradecem

A montagem é extremamente dinâmica, alegre e inovadora; se no início o espectador sente dificuldade de entender o que acontece no palco, esta sensação é diluída, graças ao talento do elenco em conduzir a narrativa de forma sensível e bem articulada. As repetições de cenas e as imagens e vídeos projetados na tela reforçam a intenção cênica. A trilha sonora aliada à coreografia também contribuem para a coesão do espetáculo. Destaque ainda para os belos e criativos figurinos. E Renata Sorrah tem a chance de mostrar seu talento multifacetado, além de sua generosidade, ao dividir a cena com atrizes e atores de grande potencial criativo. Para mais informações, siga o grupo nas redes sociais:
https://www.instagram.com/ciabrasileira/

Roteiro:
AO VIVO [dentro da cabeça de alguém]. Texto e direção geral: Marcio Abreu. Pesquisa e criação: Marcio Abreu, Nadja Naira, Cássia Damasceno e José Maria. Elenco: Renata Sorrah, Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Bárbara Arakaki e Bianca Manicongo. Direção de produção e administração: José Maria e Cássia Damasceno. Direção de movimento: Cristina Moura. Iluminação: Nadja Naira. Direção musical e trilha sonora: Felipe Storino. Figurinos: Luís Cláudio Silva/Apartamento 03. Cenografia e vídeos: Batman Zavareze, João Boni, José Maria, Nadja Naira e Marcio Abreu. Fotografia: Nana Moraes. Criação e produção: companhia brasileira de teatro
Serviço:
Teatro do Sesi (250 lugares), Avenida Paulista, 1313, tel. 11 3528-2000. Horários: de quinta a sábado, às 20h; domingo, 19h. Ingressos: gratuitos, liberados a cada segunda-feira, a partir das 8h. Reserva: www.sesisp.org.br/eventos. Classificação: 16 anos. Duração: 90 minutos. Temporada: até 1º de dezembro de 2024.