De Maurício Mellone em agosto 7, 2017
Encenado desde 2015 — inclusive no festival de monólogos em Cuba, onde recebeu dois prêmios —, o espetáculo Atrium Carceri acaba de reestrear no Espaço da Cia da Revista para uma curta temporada. Com dramaturgia de João Guerreyro e direção de Eduardo Osório, o ator Mário Goes encarna um jovem padre que vive num mundo de conflitos interiores. Sozinho e com a cabeça repleta de pensamentos antagônicos, ele questiona dogmas católicos ao se lembrar de experiências vividas na infância e na adolescência que lhe proporcionaram prazer carnal. Sem saber como conciliar os ensinamentos religiosos com seus sentimentos mais profundos, o padre vive um misto de emoções contraditórias: raiva, resignação, vingança, culpa, ódio e amor.
Ao entrar na sala de espetáculo, o público já encontra o ator em cena, deitado de barriga pra baixo diante de um pequeno altar, em extrema reverência. E o padre começa seu desabafo rezando um ‘Pai Nosso’. Mas a oração vem seguida de um turbilhão de emoções, revelando o estado de conflito interior em que o religioso se encontra. O espectador neste início desconhece a causa de tanto tormento, mas aos poucos o padre vai revelando o porquê de seu desespero. Ele se lembra da infância, do desamparo (a mãe sempre teve vários amantes e ele nunca soube quem foi sei pai) e depois de ter sido acolhido pelo velho avô, que logo morre. Mas o trauma daquele jovem padre é de fundo sexual e emocional: obrigado desde pequeno a estudar e se dedicar à religião, sempre viveu à parte de tudo e de todos, sem ter noção de seus desejos. E o que poderia ser uma violência (é molestado por um dos amantes da mãe), torna-se fonte de prazer e ao mesmo tempo de angústia. O padre tem noção de que era abusado sexualmente, mas também se lembra de que aquele contato com o amante da mãe lhe abriu as portas para o prazer carnal e o amor. Daí viver em profundo conflito existencial.
Mesmo se tratando de tema amplamente discutido na dramaturgia universal (desejo carnal de religiosos), a trama é bem articulada e o drama do jovem padre, verossímil. Destaque para iluminação de Georgia Ramos e o visagismo de Marlon Guimarães, que valorizam a narrativa e a interpretação visceral de Mário Goes. A temporada é curta: somente às quintas-feiras, até o final de agosto. Confira.
Roteiro:
Atrium Carceri. Texto: João Guerreyro. Direção e trilha sonora: Eduardo Osório. Elenco: Mário Goes. Preparação corporal: Edson Simões. Preparação vocal: Moira L’Abbate. Visagismo: Marlon Guimarães. Cenografia: Gabriel Gombossy. Iluminação: Georgia Ramos. Produção executiva: Fábio Mráz. Produção: Cia Paradóxos.
Serviço:
Espaço Cia da Revista (83 lugares), Alameda Nothmann, 1135, tel. 11 3791-5200. Horários: quinta, às 21h. Ingressos: R$ 40. Duração: 50 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 31 de agosto.
2 Comentários
Fábio Mráz
agosto 7, 2017 @ 12:04
Ótima resenha como sempre, Mau!
Obrigado!
Maurício Mellone
agosto 8, 2017 @ 14:24
Fábio,
fico feliz q vc tenha gostado da resenha
bjs e sucesso nesta curta temporada de
Atrium Carceri