De em abril 18, 2011
Dentro das comemorações dos 10 anos do CCBB/SP – Centro Cultural Banco do Brasil, o ator Chico Diaz protagoniza o primeiro monólogo de sua carreira, A Lua Vem da Ásia, adaptação que fez da obra homônima de Walter Campos de Carvalho.
Num momento de reflexão sobre sua vida e carreira, Chico Diaz ganhou do diretor Aderbal Freire Filho a obra de Campos de Carvalho. Apaixonado pela narrativa surreal do autor, Diaz fez a adaptação para o teatro, em que o narrador-personagem conta suas experiências, possíveis e impossíveis, que no fundo buscam o entendimento do mundo e de si mesmo.
Na primeira parte do monólogo, o personagem se encontra hospedado num “hotel”, que na verdade mais parece um manicômio. Valendo-se do cenário de Fernando Mello da Costa, o personagem fica enclausurado num cubículo cercado por telas, onde são projetados textos e imagens. O relato de suas histórias, divagações, devaneios e pensamentos existenciais tem um tom intimista, que o aproxima do público, mesmo estando “preso”. Numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Chico diz que Campos de Carvalho é “contra toda restrição ao homem”, daí sua condenação à tirania, ao culto às aparências e ao pensamento cartesiano.
Na segunda parte do espetáculo, o personagem foge e ganha literalmente o mundo. Numa ode à liberdade, ele conta como atravessou oceanos a nado tendo como companhia um casal de borboletas. Ou ainda como se transformou em mulher e serviu a um harém do sultão de Marrocos. O cenário também se expande e agora a tela ganha toda a dimensão do palco, com novas projeções. Com ironia e nonsense, o personagem revela a crítica do autor à sociedade consumista e belicosa e deixa, como legado à humanidade, sua escrita. O questionamento sobre vida e morte, lucidez e loucura fica registrado em sua escrita. O personagem (e o autor) é o que ele escreve. A escrita revela sua alma.
A Lua Vem da Ásia é a terceira obra de Campos de Carvalho adaptada para o teatro: Hugo Passolo em 2008 levou ao palco Vaca de Nariz Sutil e Aderbal Freire encenou O Púcaro Búlgaro em 2007. A composição e performance de Chico Diaz é o grande destaque dessa montagem, que já esteve nas unidades do CCBB de Brasília e Rio e fica em São Paulo até junho.
Fotografia: Jaqueline Machado
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