De Maurício Mellone em janeiro 7, 2015
Com estreia prevista para a próxima semana, Depois da Chuva chega num momento apropriado. Trinta anos depois do movimento político conhecido como ‘Diretas Já!, em que a população foi às ruas reivindicar o direito de votar para presidente da república — o país vivenciava o fim da ditadura militar, que durou 21 anos —, o filme de estreia de Cláudio Marques e Marília Hughes discute este período da história brasileira por meio do despertar para a vida do garoto Caio, interpretado por Pedro Maia.
Tendo como pano de fundo os acontecimentos políticos de então — as manifestações de rua, a frustração pela derrota no parlamento da emenda das eleições diretas, a eleição indireta de Tancredo Neves, sua morte antes da posse e a condução de José Sarney (antigo aliado do regime totalitário) —, a trama faz um paralelo com a retomada do movimento estudantil no interior de um colégio secundarista de Salvador, Bahia.
O filme começa com um discurso da cantora Fafá de Belém (musa do movimento), num dos palanques das manifestações de rua pelas diretas. Corte e a cena seguinte é a de uma discussão do grêmio estudantil do colégio baiano, que retomava as atividades políticas e os alunos reivindicavam a eleição direta para a diretoria. A fusão da realidade dos jovens baianos com a vivida pelo Brasil de 1984 é imediata. As várias posições políticas defendidas pelos garotos (mais à esquerda, mais de centro e até a defesa da anarquia ou isenção total àquela discussão) refletiam um pouco do que o país pensava naquele momento. E até hoje, vide a última eleição presidencial que promoveu uma acirrada discussão, tanto entre os partidos políticos como entre as pessoas, por meio de ataques e contra-ataques ferozes nas redes sociais.
Esta correlação é o que mais me chamou a atenção no filme, que não se propõe a documentar a história do Brasil. A trama se desenrola por meio da descoberta amorosa e política de Caio e sua turma — tanto a do colégio em que ele começa um namorico com Fernanda (Sophia Corral) como a dos amigos fora da escola, Sara (Paula Carneiro) e Tales (Talis Castro), que criam inclusive uma rádio pirata—, tendo como pano de fundo os acontecimentos da nação.
Outro destaque de Depois da Chuva é para a trilha sonora, que mostra a força do punk-rock da época; numas das cenas finais, há a participação de duas bandas de muito sucesso nos anos 1980 em Salvador, Crac! e Dever de Classe.
A trama acompanha o ritmo interior do protagonista e há poucas falas; mesmo assim, acho que poderia ser mais enxuto, menos arrastado. Pedro Maia surpreende com sua sensível atuação (nas filmagens tinha apenas 16 anos), tanto que faturou o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília. Confira!
Fotos: divulgação
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