Dias Perfeitos: produção encantadora do cineasta alemão Wim Wenders

De em março 21, 2024

 

Koji Yakusho vive Hirayama, o zelador de banheiros públicos de Tokio

 

 

Quebra de expectativa: o roteiro, assinado por Wim Wenders  em parceria com Takayuki Takuma, rompe com esquemas  consagrados de produções audiovisuais em que ação é entrecortada por conflitos e reações, geralmente imprimindo um ritmo forte.

 

 

Em Dias Perfeitos o espectador é conduzido ao cotidiano simples de um trabalhador simples da capital do Japão. Sem emitir qualquer palavra, Hirayama, interpretado por Koji Yakusho, é o zelador de banheiros públicos de Tokio que acorda, arruma seu quarto, escova os dentes, rega as flores, veste seu uniforme e, ao sair de casa, contempla a natureza, pega um café e vai em seu automóvel para o trabalho, sempre ouvindo sucessos musicais gravados em fitas cassetes. No trabalho, limpa com o maior rigor pias, vasos sanitários e pisos, respeitando os usurários. Na hora do almoço, ele fotografa as árvores (um de seus hobbies), volta a trabalhar e depois de tomar banho e do jantar, volta para casa onde lê ou faz pequenos passeios de bicicleta, para voltar a dormir e recomeçar tudo de novo no dia seguinte.

 

 

 

 

 

 

 

 

Hirayama mantém uma vida simples, cultiva a Natureza e as artes

 

Ao esmiuçar o dia a dia de Hirayama, o diretor alemão de forma sutil induz o espectador a refletir sobre o seu próprio cotidiano, a repensar a relação do homem com a natureza e com o próximo. Aquele homem simples cultiva valores essenciais para uma vida saudável nos dias de hoje, como o respeito à natureza, o amor às artes por meio da música e da literatura, a responsabilidade com o trabalho e o respeito e tolerância ao modo de vida das outras pessoas.

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobrinha (Arisa Nakano) admira a vida do tio

A chegada da sobrinha Niko (Arisa Nakano) na vida de Hirayama é um divisor de águas. Ele só se surpreende porque havia tempo que eles não se viam, mas sem questioná-la a recebe com carinho; aos poucos ele percebe que a garota fugiu de casa, onde vive com mãe Keiko (Yumi Asou). A jovem passa a acompanhar o tio em todas as suas atividades. Numa das poucas conversas, ela exprime a diferença do mundo dele com o mundo da mãe. Hirayama concorda e diz que às vezes os mundos não se conectam. A cena em que Keiko vai buscar a filha é bem ilustrativa sobre as realidades opostas dos irmãos, mas o amor e o respeito entre eles ficam evidentes. As lágrimas de Hirayama depois da partida delas emociona!

 

 

 

 

A relação de Hirayama com as pessoas a seu redor — o jovem que também trabalha nos banheiros e sua namorada, os garçons dos locais em que frequenta —  ajuda ainda mais a compreender a personalidade daquele homem de meia idade, que do seu jeito aprendeu a conviver numa sociedade contemporânea e tecnológica.

 

Particularmente o filme me tocou muito: além de morar só como Hirayama — procuro manter meu ambiente em ordem e cultivo as artes e a literatura —, estou longe da minha terra, dos grandes amigos, da família. Compreendo muito o que Wenders diz sobre os mundos que não se conectam, a solidão e a noção de que às vezes nos sentimos dissociados da realidade. O filme termina com o personagem feliz, tendo consciência de seu papel na sociedade, ou seja, seu cotidiano, seus princípios e valores são o que realmente importam.

 

 

 

 

 

 

Além de um roteiro sensível e cativante, Dias Perfeitos se destaca pela brilhante composição de personagem de Koji Yakusho e da trilha sonora que é fundamental para a construção da narrativa. Não perca, aqui no Recife o filme está em cartaz no Moviemax Rosa e Silva e no Cinema da Fundação.

 

 

 

 

 

 

Fotos: divulgação


4 Comentários

Sofia Carvalhosa

março 23, 2024 @ 09:31

Resposta

Mauricio querido, adorei ler sua resenha depois de assistir ao filme. Me ajudou a organizar as ideias! Também achei bonito você se colocar no texto,, vivendo sozinho como o protagonista. Sem solidão, com nosso animado grupo de whats. Saudades!

Maurício Mellone

março 24, 2024 @ 09:48

Resposta

Sofia, querida:
Obrigado, estava com receio de colocar no grupo o link,
mas só recebi carinho e incentivo!
O filme é encantador e provoca reflexões profundas!
Beijos, logo estarei de volta a Sampa e aí nos veremos
pra matarmos as saudades!

Dinah Sales de Oliveira

março 22, 2024 @ 14:29

Resposta

Maurício,
Como comentei lá no Facebook, adorei o filme. A gente sai do cinema meio encantado com a simplicidade e a beleza da história.
E bacana vc ter se colocado na resenha, a cumplicidade que vc estabeleceu com o personagem, a ‘confissão ‘ sincera que fez.

Beijos,
Dinah

Maurício Mellone

março 22, 2024 @ 14:34

Resposta

Dinah, querida:
Fiquei muito tocado com o filme.
A cena dele com a irmã, que ele chora
após a partida dela e da sobrinha, me deixou
muito emocionado. Minha irmã e eu vivemos hoje
em mundos bem diferentes, qua não se conectam….
como os irmãos do filme…..
E o jeito simples dele de encarar a vida
emociona mesmo!
Beijos, saudades

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