Deus tem Aids: documentário marca os 40 anos de combate ao HIV

De em dezembro 6, 2022

Filme traz depoimentos de pessoas que convivem com o vírus HIV e denunciam a sorofobia 

 

 

Depois de percorrer festivais de cinema pelo mundo, o documentário Deus tem Aids acaba de estrear no Cinema da Fundação. Numa produção de São Paulo e Pernambuco, o filme é dirigido pelo pernambucano Fábio Leal e pelo carioca Gustavo Vinagre e traz o depoimento de sete artistas e um médico que convivem com o vírus HIV e enfrentam a discriminação e a sorofobia.

 

Com um título polêmico extraído de um poema lido durante o filme por um dos participantes, a produção marca os 40 anos de combate à Aids e ao HIV e, por meio das falas dos participantes, fica evidente que até hoje este é um tema tabu e os portadores do vírus ainda são estigmatizados pela sociedade.

 

 

 

Cena da peça Desmesura, que é citada no filme

 

O início do filme é apenas com áudios de noticiários e manchetes veiculados pela mídia no início da epidemia da Aids, em que as informações eram desencontradas e recheadas de preconceito. O que sobressai das manchetes é o tom moralista, que relacionava a Aids aos gays e as suas práticas sexuais promíscuas. Depois deste prólogo, começam os depoimentos dos artistas e do médico; de forma intercalada, cada um relata sua experiência em ser portador do HIV e como é a reação das pessoas a este fato. A sorofobia é detectada em todos os depoimentos, inclusive na experiência do médico pediatra, que precisou usar de subterfúgio para evitar sua demissão do hospital onde trabalhava.

 

 

 

 

 

Todos os participantes estão à vontade diante da câmera, por mais íntimo e delicado que seja tocar em feridas tão profundas como a contaminação por um vírus causador de sérios problemas de saúde. Esta naturalidade nos depoimentos se dá muito em função da forma como os diretores conduzem as entrevistas: o espectador sabe que eles estão ao lado dos entrevistados, às vezes as perguntas são ouvidas. Há empatia entre o entrevistador e o entrevistado.

 

 

 

 

 

Performer em ação nas ruas de São Paulo

Paralelamente aos depoimentos, os diretores, que assinam o roteiro em parceria com Tainá Tokitaka, mostram a atuação dos artistas/depoentes, desde a apresentação da performer nas ruas de São Paulo, a dança do ator na cobertura de um edifício, a cena de uma peça com um dos atores que participa do documentário, outro performer que usa o próprio sangue como elemento cênico, até o ativista que conversa sobre HIV e Aids com as pessoas nas ruas da cidade.

 

 

 

 

Outro destaque do documentário é que todos os participantes estão saudáveis e já superaram fases agudas da moléstia. A indignação geral deles é com o estigma da sorologia: se no início da epidemia do HIV a discriminação era com os gays, hoje com o avanço da medicina e a possibilidade de controle da doença — como outras moléstias controladas por medicamentos —, as pessoas portadoras de HIV continuam a ser discriminadas e estigmatizadas pela sociedade.

 

 

 

 

 

 

Ativista propõe conversar com as pessoas

 

Para denunciar o atual governo federal, que, dentre outras arbitrariedades, cortou verbas do programa de IST/Aids, os diretores usam letreiros atualizando estas ações. No entanto, por aparecer somente no final, esta denúncia fica como um apêndice, não tendo a força necessária na narrativa.  Senti falta também de uma discussão sobre métodos utilizados atualmente no combate ao HIV: PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e PEP (Profilaxia Pós-Exposição), que alteraram profundamente as relações sexuais hoje em dia.

 

 

 

 

 

 

Porém, o documentário cumpre um papel fundamental ao abrir espaço para que os portadores de HIV possam se expressar e denunciar a sorofobia e o estigma que sofrem. Deus tem Aids demorou para estrear no Recife, mas chega no momento exato, no mês voltado à discussão sobre HIV/Aids. Não perca.

 

 

 

 

 

Fotos: divulgação


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