De Maurício Mellone em junho 15, 2018
Pela primeira vez o Brasil recebe uma mostra que faz um panorama da arte contemporânea do continente africano. Com curadoria de Alfons Hug, a exposição Ex África, em cartaz no CCBB-SP até 16 de julho, é constituída de 80 obras, entre pinturas, esculturas, instalações, fotografias e vídeos, de 18 artistas de 8 países (Zimbábue, Senegal, Nigéria, Angola, África do Sul, Senegal, Egito e Benin), além de dois afro-brasileiros — Arjan Martins e Dalton Paula que realizaram uma exposição na Nigéria recentemente.
A exposição, que já esteve nas unidades do CCBB do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, está disposta em todo o prédio, do quarto andar ao subsolo. Além de conhecer obras inéditas de artistas da geração jovem, o público pode perceber ao visitar a mostra a significativa contribuição africana na formação da identidade brasileira.
Ao entrar no prédio, o visitante dá de cara com a imensa instalação Paraíso perdido não orientável, do artista de Gana, Ibrahim Mahama, constituída de caixas de sapateiro e objetos recolhidos nas cidades, que vai do saguão até o terceiro andar. No entanto, a mostra tem início no quarto andar com uma sala dedicada à música recente da Nigéria: são quatro telas que exibem videoclipes de músicos nigerianos contemporâneos e o visitante acompanha tudo com fones de ouvido. No terceiro andar, há a sala de Youssef Limoud, do Egito, e a instalação Magom, baseada na ideia de ruína, com materiais do cotidiano, como vidro, metal, madeira, areia, recolhidos das ruas. “Busco o equilíbrio entre caos e ordem”, esclarece o artista.
O segundo andar abriga obras de nove artistas, incluindo os dois brasileiros; destaque para as fotos de J.D.Okhai Ojeikere sobre penteados de mulheres negras que são verdadeiras arquiteturas, a instalação Alaagba de Jelili Atiku, da Nigéria, e a série Genesis, do artista de Zimbábue, Kudzanai Chiurai, que mistura imagens do colonizado e do colonizador em posições invertidas, a “redenção patriarcal de um continente e seus povos”, segundo o artista.
O brasileiro Dalton Paula participa com a série Ex-votos, com objetos de salas de milagres: “Dialogo com elementos das religiões africanas, que indicam camadas de sentido para além do material”. Já as obras do outro brasileiro, Arjan Martins, têm como tema as migrações dos povos, em especial da época colonial brasileira.
No primeiro andar, há os desenhos de Karo Akpokiere, da Nigéria, que são como capas de jornal e cartazes de protesto. O angolano Kiluanji Kia Henda participa com o vídeo Afeição de concreto e o nigeriano Abdulrazaq Awofeso com a instalação Mil homens não conseguem construir uma cidade, sobre migração.
O subsolo é dedicado a três artistas da África do Sul: Andrew Ishabangu traz fotos que registram os interiores de albergues, que segundo ele ninguém merece se hospedar nesses lugares. Já as fotos de Gut Tillim registram as pessoas pelas ruas de Johanesburgo, capital do país e a instalação de Mikhael Suhotzky, 12 projeções de janelas, são imagens projetadas em vidraças do edifício Ponte City, prédio ocupado por pessoas que chegam do interior do país.
Ex África permanece na cidade até 16 de julho e é a oportunidade de ter acesso à recente produção artística da África.
Roteiro:
Ex África– panorama da arte contemporânea do continente africano, com 18 artistas de 8 países e 2 brasileiros. Curadoria: Alfons Hug. CCBB-SP, Rua Álvares Penteado, 112, tel. 11 3113-3651. Horários: de quarta a segunda, das 9h às 21h. Ingressos: gratuitos. Temporada: até 16 de julho.
Fotos: divulgação
Deixe comentário