De Maurício Mellone em março 29, 2013
A gaúcha Martha Medeiros, autora de livros de sucesso como Divã, Tudo que eu queria te dizer, Doidas e santas e Trem-bala — todos com versão teatral — novamente tem outra obra adaptada para os palcos. O cineasta Francisco Ramalho Jr. adaptou e dirige Fora de Mim, que acaba de estrear no Teatro Eva Herz, em temporada curta, só terças e quartas, até final de maio.
Ramalho Jr., consagrado diretor de cinema, faz sua estreia no teatro e, coincidência ou não, a peça me remeteu a um clássico do cinema mundial, Cenas de um Casamento, do diretor Ingmar Bergman, com Liv Ullmann e Erland Josephson e que na versão teatral brasileira foi encenada por Regina Braga e Tony Ramos, em 1996. Como o próprio título diz, a trama enfoca a crise de uma relação amorosa e como cada um reconstrói a vida depois da separação, exatamente como a personagem central da trama de Martha Medeiros. Separada e mãe de duas filhas, ela inicia a peça literalmente em frangalhos, depois de ter sido abandonada pelo namorado, que a trocou por outra mais nova. O espectador constata todos os ciclos que ela percorre, do sofrimento e desilusão à reconstrução de sua vida.
Num cenário que funciona como um espelho (criação de Andre Cortez) — os dois lados do palco são idênticos e se unem no meio por uma mesa e um fundo transparente —, a mulher abandonada, vivida com maestria por Lavinia Pannunzio, discorre sobre sua situação de vida como se fosse um desabafo. Ela fala de seus sentimentos se referindo diretamente ao namorado e, em determinados momentos, se dirige ao espectador e a plateia torna-se seu interlocutor. Este jogo dramático (quebra da quarta parede) se intensifica quando ela conhece e passa a se encontrar com a atual mulher do ex, interpretada por Maria Manoella. Ambas mantêm um diálogo amigável ao mesmo tempo em que confessam para o público suas reais intenções.
“Essa universalidade de um discurso inflamado e feminino no texto desta escritora brasileira me faz retornar ao tema eterno do amor e seus conflitos em sociedades que perpassam tempos e épocas, de Ana Karenina, Madame Bovary e, agora, neste talento, Martha Medeiros, que sabe como poucos enfatizar e criar o discurso amoroso da emancipação da mulher e do feminino. Em filmes que dirigi, como À flor da pele, ou Besame mucho, a figura feminina em sua realização e conflitos também foram temas centrais”, diz Ramalho Jr.
Por mais que o tema da separação seja sofrido, a autora ao traçar o perfil de suas personagens não abandona o humor e o patético de que todos vivemos numa relação amorosa. É pela dor que a personagem cresce, revê suas limitações refletidas nas atitudes da outra e consegue dar novo rumo à vida. Uma frase dita pela personagem sintetiza o teor da peça:
“A pior morte é a do amor. Porque a morte de uma pessoa é o retorno para o nada, uma definição que ninguém questiona. Já a morte de um amor, ao contrário, é viva.”
Um texto provocador, um jogo dramático que cativa e, principalmente, a interpretação visceral de Lavinia (vencedora do Prêmio Shell/12 por sua atuação em Um verão familiar) tornam de Fora de Mim um espetáculo reflexivo, de muita emoção e de grande empatia popular.
Para fechar, trago outra referência, agora musical, que a peça me proporcionou: a linda canção Pedaço de Mim, de Chico Buarque, que retrata as dores de amor. Aqui na interpretação de Zizi Possi e o próprio Chico:
Fotos: Jairo Goldflus
2 Comentários
Marlon albuquerque
março 30, 2013 @ 01:28
Um dia eu estava sofrendo muito porque fui abandonado por alguem que me fez conhecer o ceu sexual nessa encarnação. Resolvi ler Marta Medeiros e ela dizia:” Não era amor, era melhor” chorei muito fiquei emocionado, conheço muita coisa dela, mas nao curto muito textos alto astral, mas uma coisa é fato ela é genial.
Maurício Mellone
abril 1, 2013 @ 14:43
Marlon:
A adaptação da obra (Fora de Mim) da Martha para o teatro
está maravilhosa. Vá conferir, vc vai gostar.
bjs, querido!