De Maurício Mellone em novembro 8, 2024
Um inusitado e hipotético encontro num quarto de hotel em 1953 entre o cientista Albert Einstein, a estrela de cinema Marilyn Monroe, seu namorado, um ex-jogador de beisebol, e um senador conservador. Este é o mote central da peça Insignificância, do dramaturgo e diretor britânico Terry Johnson, em cartaz no Teatro FAAP até 15 de dezembro.
Com tradução de Gregório Duvivier e direção de Victor Garcia Peralta, o espetáculo traz no elenco Cassio Scapin na pele de Einstein, Amanda Acosta como Marilyn, Marcos Veras que vive o ex-atleta Joe DiMaggio e Norival Rizzo interpretando o senador Joseph McCarthy, conhecido como caça à bruxas. O que une os quatro é como a fama (ou a falta dela) interfere na vida pessoal e profissional das pessoas.
Como o encontro é num quarto de hotel, uma enorme cama é o elemento principal do cenário. Nela Einstein está fazendo cálculos quando é interrompido abruptamente pela atriz, que se diz perseguida. Neste primeiro diálogo o espectador já percebe como o cientista, que está prestes a depor no Senado por seu trabalho ter contribuído para a construção da bomba atômica, dá pouca importância à fama. Já a estrela de cinema mostra-se indiferente à fama, ou aceita sem relutar muito, já que vive um momento delicado de sua relação amorosa, pois não consegue engravidar.
O contraponto à posição do cientista e da atriz, é exercido por Joe Di Maggio, considerado o maior ídolo do esporte nos Estados Unidos, mas que aposentado vive das glórias do passado e decepcionado por seu declínio.
O embate ideológico e político se dá mesmo entre Einstein e o senador, que em plena guerra fria liderou a caça às bruxas nos EUA. Na trama, o político pressiona o cientista a depor no Senado com a intenção de associá-lo ao comunismo; o senador McCarthy manipula a figura famosa de Einstein, visando a própria fama.
O dramaturgo Terry Johnson estreou Insignificância em 1982 e três anos depois a peça ganhou versão cinematográfica, com direção de Nicolas Roeg. E até hoje o texto é encenado em várias partes do mundo, graças à atualidade do tema: como personalidades (do meio artístico, esportivo, político e/ou científico) lidam com a fama e quais as consequências do sucesso para o crescimento pessoal e profissional do indivíduo.
Além do texto que provoca reflexão, a montagem se destaca pela sintonia em cena do elenco e pela grandiosidade do telão no fundo do palco, que coloca o espectador como se estivesse também naquele quarto de hotel, diante das janelas e das luzes da cidade. Ao final, senti falta de um depoimento de Einstein que retratasse as contradições do cientista que, por meio de suas descobertas, contribuiu para tanta destruição.
Roteiro:
Insignificância. Texto: Terry Johnson. Tradução: Gregório Duvivier. Direção: Victor Garcia Peralta. Diretor assistente: André Acioli. Elenco: Cassio Scapin, Amanda Acosta, Marcos Veras e Norival Rizzo. Cenário: Chris Aizner. Direção de imagem: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo). Iluminação: Beto Bruel. Figurinos: Fábio Namatame. Música original: Marcelo Pellegrini. Produção Musical: Surdina. Consultoria de Movimento: Vivien Buckup. Fotografia: João Caldas. Visagista: Claudinei Hidalgo. Produção: Rodrigo Velloni. Produção executiva: Swan Prado. Realização: Velloni Produções Artísticas.
Serviço:
Teatro FAAP (477 lugares), Rua Alagoas, 903, tel 11 3662-7233. Horários: de quinta a sábado às 20h e domingo às 17h. Ingressos: quinta e sesta R$ 100 e R$ 50; sábado e domingo R$ 130 e R$ 65. Duração: 100 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 15 de dezembro.
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