De em fevereiro 25, 2011
“…Quem pode querer ser feliz
Se não for por amor…”
“…Odilê!
—Odilá!
O que vem fazer aqui,
meu irmão
—Vim sambar!..”
Cantando o amor em ritmo de samba, embalado pela plateia. Assim foi a matinê que João Bosco fez nesta sexta para a chamada melhor idade, no Sesc Pompéia. Depois de dois shows com sua banda para lançar o novo CD, Não vou pro céu mas já não vivo no chão, o cantor e compositor se apresentou a la banquinho e violão, e quê violão!
Em um pouco mais de uma hora, João desfilou seus grandes e já clássicos sucessos, com o público o acompanhando na maioria das vezes. Logo ao abrir o show, disse que era uma apresentação especial para as pessoas da idade dele e, por isso mesmo, iriam entender: estava gripado e pediu desculpas se desafinasse!
Preocupação de um artista que respeita, acima de tudo, o público. Num tom intimista, João ia tirando do baú suas canções e intercalando com pequenas explicações e citações. Como a história de sua primeira canção Samba do Pouso, que compôs com o poetinha Vinícius de Moraes, quando ainda cursava engenharia em Ouro Preto. Cantou também seus mestres e parceiros, como Nelson Cavaquinho e Tom Jobim.
Em Odilê, Odilá, parceria com Martinho da Vila, pediu cumplicidade: dividiu com os fãs a linda canção. Vieram ainda suas composições Jade, De frente pro crime e O ronco da cuíca, além de Desenho de giz com compôs com Abel Silva e, de sua grande parceria com Aldir Blanc, João interpretou Corsário, Bala com Bala e Dois pra lá, dois pra cá, quando lembrou-se de Elis Regina, que o projetou.
Momentos poéticos: João cita Oswald de Andrade, Carlos Drummond e em seguida canta E então, que quereis, poema de Maiakovski que musicou. Não deve haver nada mais especial para o compositor do que ter sua música cantada pela plateia. Em O bêbado e a equilibrista, com seu brilhante dedilhar no violão, João só acompanha o grande coro. Assim também foi com Papel Machê, sua parceria com Capinan.
Delírio total e ovação! João ainda voltou e, com todos de pé ao lado do palco, fez mais dois números. Naquele momento, ninguém podia supor que o artista estava com gripe.
A música tem seus mistérios, eleva o ouvinte. No corre-corre de uma tarde de sexta-feira, sentei na cadeira do Sesc Pompéia — bem desconfortável, por sinal, mesmo sendo obra de Lina Bo Bardi — um tanto estressado e com o coração apertado. Foi só a poesia e a musicalidade de João Bosco me tocarem para afugentar qualquer tristeza ou melancolia.
“…O amor
Me dará forças
Pro grito de carnaval,
Pro canto do cisne,
Pra gargalhada final.”
Fotos: Divulgação-site oficial do artista
6 Comentários
Carlos Scaranci
fevereiro 26, 2011 @ 12:21
Oi Mauricio,
E’ prazer poder retornar aqui para testemunhar a minha admiracao por este blog elegante e bem informado. Como um ‘espatriado’ nao so’ do Brasil, mas principalmente de Sao Paulo, a minha cidade que amo a’ distancia, encontro no teu blog um ponto de refugio da saudade ao entrar em contato com a cultura paulistana tao vivida e exuberante. Quero tambem espressar a admiracao ao amigo serio dos dias de universidade que se tornou o jornalista maduro e articulado. Finalmente, quero dizer que condivido a tua admiracao por Joao Bosco. Rscentemente encontrei em Londres, num mercado das pulgas, o disco Galos de Briga de 1976, uma obra prima, que me fez alargar a minha colecao de Joao Bosco. Nao e’ sem surpesa que observo como a grande maioria dos artistas brasileiros simplesmente ignoram a importancia do Joao, particularmente a nomenclatura mais sofisticada do eixo Caetano-Chico (com o todo o respeito que eles merecem), quase querendo ignorar o impossivel: a importancia da musica de raiz deste artista inspirado. Mais do que popular, Joao Bosco e’ um artista proximo de no’s, o publico, com uma atitude de respeito e proximidade, coisa rara em uma industria elitista como a musical, particularmente a brasileira cheia de divas inacessiveis. Muitos anos atras, eu tive a oportunidade de fazer uma intrevista com o Joao em Roma, na qual ele nao so’ prontamente nos recebeu de bracos abertos depois de um show longo e cansativo, mas tambem nos deixou explorar os mais remotos aspectos da carreria e da vida dele, como em uma conversa de bar. Foi ai que a minha admiracao pelo artista se alargou ao homem, a’ gentil pessoa que ve a sua arte como uma esperiencia condividida entre amigos. Revi esse mesmo carismatico personagem na simpatia da tua materia, confirmando uma vez mais o meu status de velho fan.
Um grande abraco e mantenha essa chama acesa!
Maurício Mellone
fevereiro 28, 2011 @ 11:29
Carlos, meu amigo!
Vc não imagina como suas palavras de incentivo e apoio
foram tão certeiras a acalentadoras. Num momento
em que o jornalismo formal não mais cativa e
os recursos andam escassos por falta de perspecitvas
e oportunidades, o blog está sendo minha fonte de prazer,
onde deposito a esperança de que outros campos se abram
na minha vida profissional!
Por isso, agradeço imensamente suas palavras amigas e incentivadoras.
Quanto ao João Bosco, assino em baixo tudo o q disse sobre ele.
Um poeta sensível e um cronista do nosso tempo, de um rigor com seus
princípios estéticos e de vida!
Mais uma vez, obrigado pela força! E sucesso a vc tb, que já
atua em outras bandas que não as do jornalismo e é brilhante!
bjs
déborah
fevereiro 25, 2011 @ 23:32
Ele é ótimo. Deve ter sido uma delícia essa matiné. um beijo para você, maurício! Déborah
Maurício Mellone
fevereiro 28, 2011 @ 11:31
Déborah, querida:
Vc não imagina a delícia de um show intimista e aconchegante como o q João nos
proporcionou!
bjs saudosos
Geise
fevereiro 25, 2011 @ 22:38
Maurício, eu imagino como deve ser sido incrível o show do João Bosco.
Pena que eu não fiquei sabendo. Adoraria ter ido. Fica pra próxima…
e você como sempre arrasando nos comentários. Bjs
Geise
Maurício Mellone
fevereiro 28, 2011 @ 11:33
Geise:
O João fez esse show especial para as pessoas “da melhor idade” e eu tive
a sorte de ganhar o ingresso da minha médica! Um presente e tanto!
Obrigadíssimo pelos elogios e muito obrigado
por sua constante presença por aqui!
bjs