Maria Firmina dos Reis, presente!: livro da peça sobre a escritora

De em julho 5, 2024

Lançado pela Barraco Editorial, livro regista a peça sobre a primeira romancista brasileira

 

Espetáculo teatral apresentado em São Paulo, em setembro de 2023, com dramaturgia assinada por Lena Roque e Marcelo Ariel, trouxe uma livre adaptação dos textos de Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista do Brasil, autora de Úrsula, publicado em 1859.

 

Devido à importância da peça que trouxe este resgate histórico, a Barraco Editorial acaba de lançar Maria Firmina dos Reis, presente!, o registro da peça. Na orelha do livro a professora e cientista social Luciana Diogo assegura:

“A partir de agora temos em mãos — transposta dos palcos — toda a potência histórica e estética da vida literária de Maria Firmina transbordando por nossos bolsos, numa dramaturgia delicada, insurgente e provocativa de Lena Roque e Marcelo Ariel”, diz a professora, que é autora da obra Maria Firmina dos Reis: vida literária/Malê.

 

A mente, essa ninguém pode escravizar

 

 

 

Lena Roque assina a dramaturgia

 

 

 

Esta frase contundente abre o livro, assim como encerra a peça, em que Lena Roque dá vida à escritora. No prólogo, a atriz faz uma breve resumo de quem foi Maria Firmina, uma maranhense nascida em 1825, filha de ex-escravizada, que se tornou professora, compositora, musicista e a primeira escritora negra a publicar um romance no país.

 

Na montagem, a atriz era acompanhada de um pianista e um percussionista. O texto sobre a carreira e a vida de Maria Firmina era intercalado com canções e poemas.

 

 

 

 

 

 

“Meus amores são da terra
Mas parecem lá do céu;
São como a estrela d’alva
São como a lua sem véu
Meu amor é flor singela,
Enlevo do coração;
Tímido como a gazela,
Ardente como um vulcão
.”

 

 

 

Trecho do romance Úrsula também fez parte do enredo da peça e a personagem/escritora confessa que para publicar o livro usou o pseudônimo de Uma Maranhense. Um recurso criativo utilizado na montagem com o objetivo de trazer para os nossos dias a figura da escritora maranhense foi encenar uma entrevista por meio de um painel LED. Assim a atriz respondia a perguntas de mulheres negras vivas e atuantes, como as escritoras Eliana Alves Cruz, Luciana Diogo e Cidinha da Silva. As perguntas se referiam à história de Maria Firmina, mas continham questões ainda insolúveis no século XXI, como machismo, racismo e invisibilidade da mulher negra.

 

 

Outra passagem interessante da peça é uma discussão de Maria Firmina e Machado de Assis: a escritora fica indignada e diz a ele: “em pleno século XIX você não sabia da minha existência, nem da existência dos meus livros? Meu romance Úrsula foi publicado antes do lendário Navio Negreiro, de Castro Alves, mas, literalmente, passou em branco! Não faço parte da Academia Brasileira de Letras. Alguma mulher negra na ABL? Nunca.”

A peça, assim como o livro, termina com um pequeno monólogo de Maria Firmina dizendo que ela é a memória da liberdade:

 

Sou o vento e o ciclone, eu sou todas as assassinadas, todas as humilhadas,
todas as pisoteadas que se levantaram num grito de liberdade.
Sou Maria Firmina dos Reis, presente!

 

 

O livro traz no final as partituras das canções apresentadas durante o espetáculo, além de um breve resumo das carreiras dos autores.

 

 

 

Ficha técnica:
Título: Maria Firmina dos Reis, presente!
Autores: Lena Roque e Marcelo Ariel
Editora: Barraco Editorial, 60 pgs
Preço: R$ 59,90

 

 

 

 

 

Fotos: divulgação


2 Comentários

ADriana Bifulco

julho 10, 2024 @ 18:50

Resposta

Tema muito importante e, infelizmente, ainda desrespeitado. Nunca tinha me atentado que não há escritoras nagras na ABL. É preciso mudar isso, assim como muitas mentalidades. Adorei a resenha!!

Maurício Mellone

julho 11, 2024 @ 11:41

Resposta

Adriana:
Não há mulheres negras na ABL e pior: houve um certo boicote para
Conceição Evaristo; esta história ainda permanece obscura, infelizmente,
pois Conceição Evaristo é uma das grandes escritora da literatura mundial!
E Maria Firmina dos Reis é pioneira, assim como Carolina Maria de Jesus, ambas
escritoras negras com pouco reconhecimento ‘oficial’.
Obrigado pela visita e o comentário tão necessário.
Beijos

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