Medianeiras, sensível retrato das relações amorosas contemporâneas

De em setembro 6, 2011

Apesar de vizinhos, Mariana e Martin (Pilar López de Ayala e Javier Drolas) andam pela rua e não se conhecem

Medianeiras- Buenos Aires na Era do Amor Virtual é um dos três ótimos lançamentos vindos da Argentina que estrearam na cidade na última semana — os outros dois são Um Conto Chinês com Ricardo Darin e A Viagem de Lucia do diretor Stefano Pasetto. Em Medianeiras (as paredes cegas, sem janelas dos edifícios) a história é um retrato fiel das relações amorosas dos nossos dias: com os mecanismos tecnológicos de comunicação à disposição de todos, cada vez mais as pessoas vivem isoladas e trancafiadas em suas residências, por mais paradoxal que isso possa parecer! Solidão, depressão, síndrome do pânico são algumas das consequências desse isolamento, o que distancia ainda mais as pessoas, dificultando a formação de novas relações amorosas.

Cartaz do filme, ganhador de melhor longa do Festival de Gramado/2011

Martin (Javier Drolas) é um aficionado pela internet e trabalha em seu apartamento construindo sites para os clientes. Sua única companhia é o cachorrinho deixado pela ex-namorada, que viajou aos EUA e de lá avisou que não voltaria mais. Além do ganha-pão, o computador é a vida de Martin: ele faz compras, lê, joga vídeo game e conversa com futuras pretendentes em sala de bate-papos. Só deixa o pequeno apartamento para ir ao psicólogo (sofre de síndrome de pânico) e para passear com o cão. Mesmo vivendo no mesmo bairro e na mesma rua de Martin, Mariana (Pilar López de Ayala),  uma arquiteta que decora vitrines e tem pavor de elevador, não se encontra com o vizinho. Ela também deixou uma relação de quatro anos e deseja refazer sua vida emocional. Assim como Martin, ela navega na internet e ambos já trocaram impressões nas salas de bate-papo, mas não se conhecem. O terceiro personagem da trama é Buenos Aires: o diretor Gustavo Taretto (autor do roteiro e também vencedor do kikito de direção em Gramado) traça uma relação entre a arquitetura da capital argentina e o modo de vida de seus moradores. As imagens da cidade contribuem para a narrativa: o crescimento desordenado, as diferenças de estilos arquitetônicos e o caos urbano são revelados pela câmera, ao mesmo tempo em que os moradores vivem no isolamento de seus mundos claustrofóbicos.
E ao invés de Buenos Aires, o filme poderia retratar muito bem São Paulo, Cidade do México ou qualquer outra metrópole mundial. O isolamento, os desencontros, a falta de afeto e vínculo amoroso são detectáveis em qualquer grande cidade, são características dos nossos tempos. Felizmente na trama de Taretto, apesar de todos esses obstáculos da vida moderna, Martin e Mariana conseguem sair do contato virtual e têm a chance do encontro na vida real.
Além da identificação total com a trama, o que me cativou em Medianeiras foi a narrativa ágil, o humor das circunstâncias e a delicadeza ao tratar de um tema tão dolorido como a solidão. As referências ao mestre Woody Allen são totais, tanto que há uma cena em que os dois personagens (cada um em seu apartamento) choram na frente da TV ao assistirem a um filme do diretor norte-americano.

Fotos: Divulgação


8 Comentários

Patricia

agosto 25, 2017 @ 16:57

Resposta

Gostei muito do filme, a sutileza a delicadeza de tratar de temas tão próximos da gente. Ainda mostra a cidade tão desnuda, tão pulsante ao mesmo tempo triste e desesperadamente sufocante.
abraço

Maurício Mellone

agosto 28, 2017 @ 14:08

Resposta

Patricia,
belo filme, concordo com vc.
Volte mais vezes
abr

Ana

fevereiro 5, 2012 @ 22:56

Resposta

Amei o filme, muito sensível. Mas, o que você achou do final? Pra mim, fez parecer que eles estavam destinados a ficar juntos. Não curti isso, nem o youtube.

Maurício Mellone

fevereiro 6, 2012 @ 14:27

Resposta

Ana:
Gostei muito deste filme argentino. Não podemos esquecer q se trata de um filme sobre um caso amoroso….
lógico que o casal iria se encontrar….
Abr e volte sempre

Antonio Moreira

outubro 10, 2011 @ 14:49

Resposta

Recomendado aqueles que não acham chato discutir temas delicados do nosso tempo e na sua discussão sabem ser interessantes, inteligentes e bem humorados, isto é, fugindo de discussões que para serem sérias precisam ser pesadas e chatas.

Recomendo o filme.
Parabenizo o texto.

Antonio Moreira

Maurício Mellone

outubro 10, 2011 @ 16:46

Resposta

Antonio:
Obrigado pela visita e por parabenizar-me pelo texto!
Volte sempre
abr

Dinah

setembro 6, 2011 @ 18:58

Resposta

Maurício,
Vamos ver se desta vez seu blog ‘aceita’ um comentário meu (rsrs…)
Tenho acompanhado a produção de filmes argentinos e até agora não me decepcionei.
Parece que esse que vc viu – pelo jeito, se identificou totalmente – e fez a resenha vem completar a boa safra que tem vindo de lá.
Vou conferir (e também o o Conto Chinês, que está na minha lista).

um beijo,
Dinah

Maurício Mellone

setembro 8, 2011 @ 14:06

Resposta

Dinah:
Dessa vez vc conseguiu enviar comentário! Ótimo!
Ontem fui assistir ao Conto Chinês e está confirmado: muito bom e a safra argentina continua
maravilhosa. Precisamos assistir tb Viagem de Lucia, outro dessa safra!
Bjs

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