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Meia-Meia: Luís Mármora interpreta um anão, símbolo da sordidez humana

De em novembro 5, 2018

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Luís Mármora em seu primeiro monólogo, inspirado no romance O anão de Pär Lagerkvist

Últimas apresentações do espetáculo Meia-Meia — em cartaz no Espaço Cênico do SESC Pompeia, inspirado no romance O anão do escritor sueco Pär Lagerkvist. Em seu primeiro monólogo na carreira, o ator Luís Mármora encarna um anão de 66 cm, que é o símbolo da maldade e da sordidez humanas. O anão Meia-Meia relata o cotidiano e os bastidores de uma corte na Renascença e, principalmente, exalta seu fascínio pela guerra e pela destruição. A dramaturgia é assinada pelo ator, por Vadim Nikitin e por Georgette Fadel, que dirige o espetáculo em parceria com Juliana Jardim. Além de encerrar a temporada nesta semana, a produção promove a oficina Travessia pelo anão, nos dia 6 e 8, voltada a atores e estudantes.

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Ator divide a dramaturgia com Vadim Nikitin e Georgette Fadel

 

O público ao entrar já se depara com o ator, que está de costas; ao iniciar o espetáculo, graças aos efeitos de iluminação, o espectador vê refletido na parede a pequena dimensão do personagem. Mas a estatura do anão, 66 cm, é inversamente proporcional ao tamanho de sua violência, truculência e perversidade. Com um humor sarcástico, o anão descreve os bastidores da corte e relata todos os podres da família real, com ênfase às traições, conchavos e casos extraconjugais. Ele faz questão de ressaltar seu fascínio pela guerra e pela destruição:
 

 

Vai haver guerra! Meu nariz fareja-a por toda a parte. No fundo todo o mundo quer a guerra porque ela simplifica a vida, e isso é um alívio para o espírito humano”.

 

 

Durante os comentários virulentos sobre a corte e a “gentalha” do reino, o anão se prepara para a guerra (o ator vai completando o figurino, com adereços, para a batalha final). Usando de pequenos elementos (talheres espetados em pedaços de queijos), o anão reproduz a carnificina de um combate e, com um açoite, dilacera tudo o que vê a sua frente. Meia-Meia é um terrorista sanguinário, mas depois do embate final, ele diz que representa o mal latente em todo o ser humano.

 

“Meia-Meia expõe o que há de mais sombrio na força humana, que é uma coisa com a qual temos nos deparado cada vez mais nas relações político-sociais atualmente. As relações se tornaram mais explicitamente violentas e dominadas pelo ódio. Esta peça vem para questionar como lidamos e domamos tudo isso”, argumenta Luís Mármora.

 

A própria concepção cênica (um espaço pequeno para um público reduzido) cria uma proximidade grande entre o ator, o espectador e a ação; impossível sair do espetáculo imune a tanta atrocidade. Aquele personagem asqueroso provoca uma reflexão profunda sobre a realidade que vivemos hoje em dia, tão marcada pela banalidade da violência e a onda conservadora e retrógrada que avança pelo mundo! Além desta dramaturgia provocativa, destaque para a iluminação, cenografia e trilha sonora que enfatizam a proposta cênica da direção. Entretanto, o espetáculo só tem esta dimensão graças à performance visceral e a entrega de Luís Mármora a este personagem tão emblemático.
Não perca, ultimas apresentações, só até domingo. Que venham outras temporadas.

 

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Direção: Georgette Fadel e Juliana Jardim

Roteiro:
Meia Meia
. Texto: inspirado no romance O anão de Pär Lagerkvist. Dramaturgia: Vadim Nikitin, Luís Mármora e Georgette Fadel. Idealização e atuação: Luís Mármora. Direção: Georgette Fadel e Juliana Jardim. Cenário e figurino: Silvana Marcondes. Trilha sonora original: Luiz Gayotto. Iluminação: Aline Santini. Fotografia: Zeca Caldeira. Direção de produção: Pedro de Freitas / Périplo Produções
Serviço:
Sesc Pompeia, Espaço Cênico (50 lugares), Rua Clélia, 93,  tel.11 3871-7700. Horários: quinta a sábado às 21h30, sexta, domingo e feriado às 18h30. Ingressos: R$ 20, R$ 10 e R$ 6. Duração: 70 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 11 de novembro.
Oficina Travessia pelo anão: dias 6 e 8 de novembro, das 14h às 18h, com Juliana Jardim e Luís Mármora.


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