De Maurício Mellone em outubro 16, 2023
Próximo de completar um ano de sua morte, a cantora baiana Gal Costa recebe uma grande homenagem. As diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi acabam de lançar o longa-metragem Meu nome é Gal — em cartaz no ETC Rosa e Silva —, protagonizado pela atriz Sophie Charlotte e que traz um recorte na vida da cantora: da chegada dela ao Rio de Janeiro em 1967 até ao emblemático álbum Fa-Tal, de 1971.
Além de retratar como a jovem e tímida Maria da Graça Costa Penna Burgos chegou ao Rio, o roteiro — assinado por Lô Politi, Maíra Bühler e Mirna Nogueira — mostra o início da carreira de Gal Costa, seu crescimento profissional e pessoal, seu engajamento político e a revolução comportamental que ela liderou. Destaque também para a atuação de Rodrigo Lelis, como Caetano Veloso, Camila Nárdila vivendo Dedé Gadelha, Dan Ferreira no papel de Gilberto Gil, Luiz Lobianco como o produtor Guilherme Araújo e Dandara Ferreira interpretando Maria Bethânia.
O filme começa com Gal no palco, numa apresentação do show Fa-Tal, quando tem um insight, que a remete ao início de sua carreira. O espectador passa então a conhecer como tudo aconteceu antes daquele show, que hoje é considerado um dos maiores trabalhos da cantora baiana e foi dirigido por Waly Salomão, no filme vivido por George Sauma.
Por mais que já tivesse feito shows e até gravado na Bahia, quando chegou ao sul do país ela era desconhecida do grande público. Ao lado dos amigos Dedé, Caetano, Gil e Bethania, Maria da Graça, a Gracinha ou Gau, era tímida e foi Guilherme Araújo quem viu seu potencial e a batizou de Gal Costa. A gravação do LP Domingo, com Caetano Veloso, foi um marco na sua carreira e é bem retratado no filme. Aos poucos a jovem cantora vai se enturmando e passa a fazer parte daqueles que revolucionaram a cena musical e cultural do Brasil do final dos anos 1960 e início da década de 1970.
A música Baby, de Caetano, gravada por Gal no LP Tropicália ou panis et circensis/1968, tem um destaque no filme: desde a criação dos primeiros versos, o primeiro contato de Gal com a canção, sua recusa inicial em gravar (Caetano tinha oferecido à Bethânia) e a decisão em tomar para si aquela que hoje é um ícone do cancioneiro nacional, emociona os espectadores.
O roteiro bem construído mostra a evolução e o crescimento de Gal, ao mesmo tempo que traça um perfil do momento violento e repressor que o Brasil vivia. Com a prisão e o exílio dos amigos Caetano e Gil, Gal entra em depressão, mas é incentivada por Guilherme Araújo e Waly Salomão a ser a voz deles aqui no país. De volta ao Rio (ela viveu com os amigos baianos em São Paulo até a prisão deles), Gal provoca outro tipo de revolução: seu jeito de ser, suas roupas, cortes de cabelo e postura influenciam o comportamento da sociedade, careta, da época. Tanto que um trecho da praia de Ipanema ganhou seu nome, as Dunas de Gal.
Além da emoção em ouvir canções marcantes da história cultural do país, o filme, com este recorte na vida de Gal Costa, revela o potencial e o talento de uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos. A escolha de Sophie Charlotte para dar vida à protagonista não podia ser a mais acertada: a atuação sensível da atriz revela o crescimento pessoal de Gal Costa e o vigor com que a cantora baiana sedimentou sua carreira. O final desta cinebiografia provoca ainda mais emoção: a câmera retoma à cena inicial do show Fa-Tal e a voz de Sophie se funde à da homenageada: a partir daí surgem cenas curtas de todas as fases da carreira de Gal Costa. Uma grande homenagem das diretoras e roteiristas e um presente à legião de fãs da cantora. Como aperitivo, fique com o clipe de Divino Maravilhoso (Caetano e Gil), numa gravação de Gal em 2012.
Fotos: divulgação
2 Comentários
Nanete Neves
outubro 16, 2023 @ 21:47
Agora fiquei mesmo com vontade de assistir. Bora prestigiar o cinema nacional!
Maurício Mellone
outubro 18, 2023 @ 09:42
Nsnete, querida:
Que bom q te incentivei a assistir a este belíssimo e emocionante
filme sobre a nossa cantora baiana, uma das maiores de todos os tempos!
E precisamos sempre prestigiar o cinema nacional.
Beijos, saudades