De Maurício Mellone em novembro 22, 2016
Inspirado na experiência de vida do diretor Domingos Oliveira, BR 716 é o retrato da boemia carioca dos anos 1960, um período que antecede ao golpe militar ocorrido no país. Rodado em preto e branco e praticamente dentro do espaçoso apartamento da Rua Barata Ribeiro, 716, o filme é centrado na vida de Felipe, interpretado por Caio Blat, um engenheiro que nunca exerceu a profissão, mas insiste em se tornar um escritor e roteirista. Depois do fracasso no casamento, o rapaz tenta reconstruir sua vida e para isso promove grandes festas no apartamento que herdou do pai, vivido por Daniel Dantas.
Com roteiro e direção de Domingos Oliveira, o filme ganhou quatro kikitos no Festival de Gramado deste ano: filme, direção, trilha sonora e atriz coadjuvante para Glauce Guina.
A trama começa na praia, num making of com todo o elenco. Caio Blat vai incorporando o personagem e o público logo percebe que Felipe se dirige ao antigo apartamento, quando ele começa a rememorar sua juventude. Até então o filme está em cores e, ao entrar no edifício, o filme passa a ser em preto e branco e o rapaz já está em 1963, época em que ele promovia as festas recheadas a muita bebida, cigarro e inúmeros amigos. É bêbado, na maioria das vezes, que Felipe discorre sobre suas frustrações, anseios, planos e suas paixões. Numa destas noitadas ele fica sabendo que a ex-mulher, Adriana, vivida por Maria Ribeiro, agora está com seu melhor amigo, João Manoel (Álamo Facó): a cena em que o casal pede perdão a Felipe é memorável!
Outras cenas marcantes do filme são com a linda Sophie Charlotte, que vive a cantora Gilda e desperta uma paixão arrebatadora em Felipe. O contraste do enredo é que ao mesmo tempo em que no apartamento as pessoas festejavam, o país entrava numa crise institucional gravíssima, que culminou com o golpe militar e um período de restrições à liberdade e muita violência.
Domingos utiliza os acontecimentos históricos como pano de fundo para contar a sua experiência de vida, por meio do alter ego Felipe. Importante ressaltar a interpretação de Caio Blat, que com rigor consegue pela dicção e gestual caracterizar perfeitamente o diretor. Destaque ainda para as participações de Sergio Guizé, Pedro Cardoso e Glauce Guima, premiada no festival de cinema gaúcho. Mais do que uma análise crítica do momento histórico do Brasil, o filme de Domingos Oliveira enaltece a amizade, a paixão e o amor.
Fotos: divulgação
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