De Maurício Mellone em dezembro 4, 2023
O multiartista nascido no Recife — além de escritor, é músico, astrólogo e produtor cultural —, Bruno Albuquerque, lançou no último domingo, na Cozinha Solidária do MTST, seu segundo livro de poesias. Motim, editado pela Ases da Literatura, reúne mais de 200 poemas criados nos últimos 20 anos.
Segundo o escritor e poeta, a obra, com capa e ilustrações de Marcela L’Amour, revela três de suas características de estilo:
“Este livro traz três perspectivas que acompanham minha escrita: a metalinguagem e o seu lado filosófico, a indignação com injustiças e a possibilidade de dar notoriedade às nossas vozes internas”, argumenta Bruno Albuquerque.
Em 2000, de forma independente, Bruno Albuquerque lançou seu primeiro livro de poesias, DiVerso inVerso. Hoje aos 45 anos, o escritor confessa que sua escrita transmite suas mudanças internas. “Comecei a me preocupar em escrever contra a opressão colonial que nos aprisiona”.
Em Motim os poemas são intercalados com textos em prosa póetica, que não só introduzem as poesias como traduzem a alma do poeta:
“Esse que se pensa eu-de-agora, orientando os eus in lettera registrados há bem vinte anos, os afetos a tiracolo. Não dá para precisar, nem pra orientar. Mas é preciso, é parte quiçá do (mau quisto) movimento de conservação que somos. Estouro, foi o que disse, é o que verão, meus prenúncios de primaveras, inacabadas, efêmeras.”
A influência da poesia concreta fica evidente no trabalho de Bruno, que também usa uma técnica peculiar: os títulos dos poemas funcionam como mote do que vem a seguir:
“Quanto escaLpa
Cada palavra
Até que sangremos
Sem metáfora?”
“em meu poder transitório
eu mergulho meu poder transitório
eu entulho meu poder transitório
eu embrulho meu poder transitório
eu engulo meu poder transitório
…
mapeio meu poder transitório
eu tive o meu poder transitório”
Na orelha do livro o texto que faz uma apresentação do autor diz que Bruno Albuquerque é navegante por profissão, que “os sete mares o forjaram antes como marinheiro, logo como piloto da marinha mercante (Universidad Andres Bello, no Chile)“. Daí que várias poesias têm como tema os mares e outras foram criadas em espanhol:
“a figura que passeia no meu barco
e me habita o quintal de alguns desejos
parece não gostar dos meus passeios
meu devaneio lhe incomoda
sempre que aparece”
“Las cosas em que pienso
Mientras (aún) estoy sem tiTu pies
Y todo el placer que los puedo ofrecerUna manera de decirte
El amor que siento em alma”
Impossível numa resenha transmitir todos os “eus” do poeta, suas facetas e visões do mundo. Seu lado lírico é muito presente, assim como sua visão política e crítica. Em dois poemas fica evidente sua acidez diante da realidade:
“vende-se o braZil com tudo dentro
PB préZal
pretas pobres pretos
índias pobres trans
carne queimada a fole a rodo
aRRoto de quem pode”
“a pátria que nos pariu
nascida da cobiça
educada à companhia de jesus
marcada a ferro e fogo
por seus fartos rios de ouro
cresceu
mas não deixou os velhos hábitos”
Para finalizar, o tom filosófico e existencial de Bruno Albuquerque, que prepara o disco Contratirania a ser lançado em breve, unindo a poesia com melodia.
“Pra cada farsa
Uma força
Que a desfaçaPra cada trama
Uma cama limpa clara
Branca”“preciso é de mim mesmo
única ilusão de que preciso”
Título: Motim
Autor: Bruno Albuquerque
Editora: Ases da Literatura, 276 pgs
Preço: R$ 64,90
Fotos: Rayanne Moraes
Deixe comentário