Nó na Orelha, o eclético e criativo álbum de Criolo

De em março 13, 2012

O cantor e professor Luiz Líbano volta a participar do Favo

É com alegria que anuncio a volta das participações especiais ao Favo. Além de meus amigos, estes profissionais (jornalistas, escritores, professores e artistas) trazem novos olhares sobre a produção cultural contemporânea, o que só enriquece o conteúdo que veiculo neste blog. Desta vez conto com a colaboração do cantor e professor Luiz Líbano, que debruçou-se sobre Nó na Orelha, álbum de Criolo lançado em 2011. Com sua linguagem criativa e provocativa, Líbano afirma que o ex-MC Criolo é na verdade um proeta (misto de poeta, profeta e esteta da palavra), que explora com maestria sua poderosa poesia, ao compor incríveis neologismos. Confira abaixo a resenha e deixe em seguida seu comentário, tanto sobre o trabalho do Criolo como sobre a resenha do Líbano e do blog de uma maneira geral. Boa leitura!

Criolo lançou o segundo CD em 2011, mas está na estrada há 23 anos

 

“…a ilusão é doce como o mel/
e cada um sabe o papel/
que tem e de onde vem…”

 

 

Nó na orelha? Nó górdio? Nó de quem? De alguém nascido em SP? Sim, de alguém nascido pra mostrar o que vê, sente e ouve. Kleber Cavalcante Gomes. Como assim? Ah, sim! Com o perdão do nó do esquecimento (ainda que ele seja a sensação do momento) ao ex MC Criolo Doido, o qual atualmente se apresenta com o nome singular de Criolo.
O artista que estourou na mídia em 2011 ao lançar o álbum (autoral) marotamente intitulado Nó na Orelha não surgiu precisamente agora. Há 23 anos está na estrada, já tendo lançado anteriormente outro álbum (Ainda há tempo / 2006); entretanto, só agora com produção de Daniel Ganjaman e de Marcelo Cabral é que põe na praça —com edições em vinil e CD — o álbum com não só nome sugestivo, mas com um forte apelo poético, um leque eclético de gêneros musicais, que misturam hip-hop, samba, balada, bolero, jazz e toques de soul music. E de um apuro estético bem estimulante aos ouvintes já saturados de um tipo de música popular manjada, viciada de sonoridades pra lá de exploradas, visitadas.
A mim, ouvinte exigente e carente de boa música, o que desponta como algo pulsante, vibrante e interessante nesse álbum é a poesia impecável, praticamente irretocável, desse jovem compositor do Grajaú (Zona Sul de Sampa). Nos versos em destaque na abertura da resenha,  já se nota a que veio: marcar terreno na MPB como alguém que sabe bem de suas raízes e parece traçar firmemente suas diretrizes. Além disso, ilustra bem em alguns de seus versos  o que Caetano Veloso já escreveu: Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é:

 

“Eu tenho orgulho da minha cor/
Do meu cabelo e do meu nariz/
Sou assim e sou feliz/
Índio, caboclo,cafuso e criolo”

 

Certamente Criolo é um artista ímpar, uma espécie de Górdio da atualidade, pois ao assumir a parte que lhe cabe neste latifúndio (como o camponês, que se torna Rei no Séc. VIII A.C. na Frígia, Ásia Menor) não nega suas raízes, nem se envergonha delas, muito pelo contrário: prende a sua carruagem de tesouros poéticos … (como o outro prendeu sua carruagem numa coluna e deu um nó, pra nunca se esquecer de onde veio) … a uma sonoridade bem equilibrada, a fim de mostrar a esse mundão de meu Deus (ou seria Zeus?) a que veio.
Criolo não veio para recreio ou para um simples passeio, veio pra nos relembrar que, antes tarde do que nunca, ou que vale a pena ter paciência, usar a ciência e esperar o momento certo, o momento de ser esperto no uso habilidoso dos vocábulos. Após os 23 anos de espera e já querendo desistir da luta, teve um alento e apoio de amigos que quiseram simplesmente fazer o registro de um trabalho. Alvíssaras!, diria eu e os esperançosos por boas-novas, pois assim não fomos privados de conhecer esse proeta (poeta, profeta, esteta da palavra) em perfeito domínio de sua poderosa poesia, a qual ele explora com maestria ao compor incríveis neologismos  (e nada de modismos), diferente de uma grande maioria de artistas que se dedicam ao chamado hip-hop, pop ou coisa que o valha, mas não saem da mesmice, não utilizam como Criolo a força da poesia, que pode ser o fio da navalha (sem ser óbvio, oportunista ou canalha).
Cabe agora aos ouvintes antenados (ou mesmo aos atrasados ou desligados) se livrarem da mágoa, correrem atrás da obra do cara que sabe dar nó em pingo d’água, ao propor um som desafiante de artista que nos traz um novo bolo, nos propõe consolo (ou um novo rolo?), daquele que veio pra botá e pra quebrá ao abrir o álbum com Bogotá e outras preciosidades que são daqui, não de lá ou de Shangrilá. Saravá!

Luiz Líbano

Para completar, acompanhe o clipe de Não existe amor em SP

Fotos: divulgação

 


8 Comentários

Marcus Vincius Spinieli

abril 15, 2014 @ 10:43

Resposta

“Não existe amor em SP” é um hino. Mesmo não morando em SP, me sinto andando pela cidade, com os versos desta canção. E sinto o espiritualidade da cidade de São Paulo, ” …São Paulo é um bouquet…” Parabéns pela resenha, adoro as músicas do Criolo. Sou amante da boa música, independente do ritmo. E como digo, eu gosto muito do rap, mas não generalizando, gosto dos cantores e letristas que o fazem com letras inteligentes, com apelos inteligentes. Afinal, música boa, tem que ter inteligência!

Maurício Mellone

abril 15, 2014 @ 15:01

Resposta

Vinícius:
Que delícia recebê-lo aqui no Favo.
Também admiro muito o trabalho do Criolo (no mais recente CD do Ney Matogrosso há uma pérola dele,
(Freguês da Meia-noite).
Obrigado por sua participação, volte sempre.
Bjs

maria josé soares correa

abril 1, 2012 @ 20:51

Resposta

Luiz querido ,sempre muito bom ler o que vc escreve.

Maurício Mellone

abril 2, 2012 @ 16:25

Resposta

Maria José,
obrigado por sua visita. Também gosto muito
de contar com a colaboração do Luiz aqui no blgo!
abr

recados para orkut

março 17, 2012 @ 17:49

Resposta

criolo já virou mito!

Maurício Mellone

março 19, 2012 @ 15:36

Resposta

Aline:
Bom q depois de anos na estrada, o Criolo recebe o reconhecimento de
público e crítica!
bjs e volte sempre ao Favo!

Luiz Carlos Líbano

março 13, 2012 @ 18:23

Resposta

Olá, Maurício, obrigado uma vez mais pelo seu incentivo e apoio ao meu resenhar poetizante. Também fico feliz por você disponibilizar esse espaço virtual pro que não é banal, amoral ou igual. Este – a meu ver – é um canal do que pode (e deve) ser original, sem ficar além ou aquém.
Luiz Líbano.

Maurício Mellone

março 14, 2012 @ 15:13

Resposta

Luiz:
ótimo ter vc entre os colaboradores do Favo!
bjs

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