Capa do primeiro livro de contos de Mario Garrone 

Em pleno período de isolamento social em razão da pandemia do coronavírus, há uma boa notícia para quem gosta de ler. O escritor e jornalista Mario Garrone acaba de lançar pela Editora Penalux mais uma obra. Trata-se do livro O mal que nos arruína, que reúne 16 contos que foram publicados com exclusividade, em suas primeiras versões, aqui no Favo, de setembro de 2011 a maio de 2015.

Autor de dois romances — O Homem Infeliz/Imago Editora -1998 e Pequeno Relado sobre o Caos /Chiado Editora-2012 —, Garrone já escreveu peças teatrais (ainda inéditas) e pela primeira vez tem seus contos publicados. Em virtude deste momento inusitado em que vivemos, o livro está disponível apenas no site da editora (editorapenalux.com.br/loja/o-mal-que-nos-arruina); depois que este pesadelo passar, o autor promete o lançamento oficial da obra.

Garrone: autor de peças teatrais e dois romances

O livro traz histórias com enredos variados, que giram em torno da solidão, do egoísmo e da falta de capacidade de as pessoas estabelecerem uma comunicação verdadeira entre elas. Segundo o próprio autor, a maioria das personagens olha basicamente para si, atrás apenas do que lhe interessa:

“Elas não reconhecem que estamos no mesmo barco e indo em direção ao mesmo fim, ainda que não saibamos se depois do fim inescapável há algo a mais à frente a nossa espera”, reflete Mario Garrone.

Mesmo sendo seu primeiro livro de contos, o autor já traz um estilo próprio, que enreda o leitor desde as primeiras frases da história. No primeiro conto, Ataliba e o gato angorá, o autor rompe com a estrutura formal de diálogo e coloca a fala dos personagens de forma direta, o que faz com o leitor fique ávido para desvendar o que de fato ocorreu na vida dos personagens.

Outra marca de Garrone é sua estrutura de linguagem, que faz com que o leitor passe a ser praticamente coautor da história, já que é incitado a descobrir o destino dos personagens. Em Os sentimentos ruins o desfecho do triângulo (seria amoroso ou odioso?) entre Araci, Moacir e Heitor fica subentendido.

Em A mãe do bandido, a história é ambientada na periferia da Grande São Paulo, com personagens típicos de enredos policiais. Além dos crimes o autor quer revelar o que se passa com a mãe do criminoso: há sinais desde o início para só no final o mistério ser desvendado.

Mistério também é a tônica de O mal que nos arruína, conto que dá título à obra. Numa família pouco convencional, Lúcio, negro e médico, se apaixona e casa-se com Blandina, uma mulher branca e que vivia no puteiro até então. O casal perde a primeira filha, que nasceu ‘clarinha’, e a segunda, Lana, é negra e a mãe “nunca se deu” com a menina. Os conflitos só se acirram quando a garota se apaixona por Wanderlei, um rapaz branco e bem-sucedido. O autor menciona o crime, mas o desfecho fica para o leitor imaginar.

Particularmente fiquei muito feliz com a publicação deste livro, pois foi aqui no Favo que o público teve acesso às primeiras versões destas histórias. Mario Garrone, além de possuir um estilo próprio de narrar, é criativo e os enredos provocam e prendem o leitor desde as primeiras linhas. Bela estreia como contista. Que venham outras obras e novas e instigantes histórias como as de O mal que nos arruína.

Ficha técnica:
Titulo: O mal que nos arruína
Autor: Mario Garrone
Editora: Editora Penalux; 188 pgs
Preço: R$ 40

(link para compra: editorapenalux.com.br/loja/o-mal-que-nos-arruina)

Fotos: divulgação