De Maurício Mellone em agosto 21, 2015
O grande ator Othon Bastos — que participou de mais de 40 filmes dentre eles os consagrados O Pagador de Promessas/Anselmo Duarte, Deus e o Diabo na Terra do Sol/Glauber Rocha, São Bernardo/Leon Hirszman e Central do Brasil/Walter Salles — está de volta em O Último Cine Drive-in, exatamente num filme que faz uma homenagem à sétima arte.
O longa metragem de estreia de Iberê Carvalho, diretor dos premiados curtas Para pedir perdão e Procura-se, faz um paralelo entre a luta de Almeida, vivido por Othon, para que o seu cinema ao ar livre em Brasília, considerado o último drive-in do Brasil, permaneça vivo com o drama de Marlonbrando (Breno Nina), que está com sua mãe (Rita Assemany) à beira da morte no hospital. Com uma narrativa nada convencional — a relação de pai e filho só é revelada com a trama em pleno andamento — e repleta de silêncios e de diálogos em que a resposta não corresponde à pergunta inicial, o filme incita o espectador a ir preenchendo as lacunas (ou não) e assim é fisgado numa comovente história de amor filial de um lado e, de outro, numa reverência ao cinema.
O filme começa com Brando sendo impedido por seguranças de entrar no hospital onde a mãe está internada; sem ter como voltar para dormir ao lado de Fatima, o garoto perambula pela capital federal até ser acordado por Paula (Fernanda Rocha), já no drive-in, onde ela é a operadora cinematográfica. A relação entre Almeida e Brando é truncada e ríspida e só mais tarde o espectador percebe as razões para este distanciamento; o garoto tem carinho e afeto por Zé (Chico Sant’anna), o velho bilheteiro do cinema.
O roteiro, assinado pelo diretor em parceria com Zepedro Gollo, mantém as histórias correndo em paralelo: num plano Almeida tenta salvar seu negócio — numa referência direta ao famoso Cinema Paradiso de Giuseppe Tornatore — e, no outro plano, Brando cuida da mãe e quer lhe proporcionar uma última alegria, a de poder assistir novamente a uma sessão no drive-in como ela conheceu antigamente. Todos se mobilizam para a realização deste sonho e na preparação para esta última sessão os personagens se desnudam e há uma convergência de interesses, que contagia o espectador: impossível não se emocionar.
Além da forma criativa de contar a história, O Último Cine Drive-in chama a atenção pela interpretação de todo o elenco (a perfeita sintonia entre os atores é nítida), com destaque para Breno Nina, que mostra muito bem as várias facetas do personagem, e para o veterano Othon Bastos, que mais uma vez deixa sua presença marcante na cinematografia brasileira.
Fotos: divulgação
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