De Maurício Mellone em agosto 17, 2015
Depois de percorrer festivais de cinema pelo mundo — venceu o prêmio de melhor filme do júri popular do Festival de Berlim e melhor interpretação para Regina Casé e Camila Márdila no Festival Sundance — finalmente estreia no Brasil no próximo dia 27 de agosto o longa Que Horas Ela Volta?, com direção e roteiro de Anna Muylaert.
Com um olhar crítico para a sociedade brasileira dos nossos dias, a trama tem como foco central a vida da empregada doméstica Val, interpretada com brilhantismo por Regina Casé, uma pernambucana que deixou a filha com a irmã e veio tentar a sorte em São Paulo. Ela trabalha numa mansão no Morumbi, onde além de todos os afazeres domésticos é babá de Fabinho (vivido por Michel Joelsas já adolescente). Tudo caminha bem até que Val recebe um telefonema de sua filha Jéssica (interpretada por Camila Márdila) pedindo para vir para São Paulo para prestar vestibular. Com o consentimento dos patrões, Val traz a garota para ficar com ela, o que irá causar a maior revolução na vida de todos.
O título do filme é a pergunta que o garotinho faz para Val no prólogo, para saber quando a mãe, a estilista Bárbara (Karine Teles), deve chegar, já que ela passa o tempo todo fora e ele é cuidado só pela babá. Este vínculo afetivo entre Val e Fabinho permanece, o que não ocorre entre Jéssica e a mãe: elas não têm intimidade — Val há treze anos não vê a filha — e a garota não entende e nem suporta a vida submissa que a mãe leva naquela mansão. Ao ser ciceroneada pelo dono da casa, o artista plástico Carlos (Lourenço Mutarelli), Jéssica se oferece para ficar no quarto de hóspede da família, para desespero de Val. E é desta forma espontânea e autêntica que Jéssica se coloca para todos, questionando valores, conceitos e posturas de cada membro da família, principalmente como Val é tratada e por que se submete a viver num minúsculo quarto de empregada!
A chegada de Jéssica realmente transforma a vida de todos: a patroa que até então convivia em harmonia com Val (ou pelo menos dissimulava seu carinho pela empregada) passa a mostrar seu repúdio às atitudes da menina e demonstra todo o seu preconceito e autoritarismo — o máximo da discriminação é quando Bárbara manda esvaziar a piscina no dia seguinte que Jéssica nadou com Fabinho. Carlos também fica fascinado pela garota, mas provoca um constrangimento sexual entre eles. E quem mais é questionada por Jéssica é a própria Val, que demora para entender o que a filha deseja e aspira para a vida delas.
Com sutileza, Anna Muylaert em Que Horas Ela Volta? mostra o abismo que separa o mundo dos patrões do mundo dos empregados e por intermédio da história de vida de uma mãe e uma filha faz uma crítica contundente à sociedade brasileira contemporânea, repleta de contradições, injustiças e preconceitos. A cena em que Val comunica à filha sobre a decisão que tomou sobre o futuro delas é de uma emoção ímpar e revela o grau de entrosamento e de entrega das atrizes para o filme. Regina Casé e Camila Márdila são mais do que merecedoras dos prêmios já recebidos e dos que virão!
Fotos: divulgação
8 Comentários
Dana
novembro 21, 2016 @ 11:35
Eu amo a criatividade Camila Márdila. Você já viu o filme “Cora Coralina – Todas as Vidas”? Isso não é interessante ( http://filmesonline.video/1387-cora-coralina-todas-as-vidas-2015.html )?
Maurício Mellone
novembro 21, 2016 @ 12:31
Dana,
belo filme da Anna Muylaert, com ótimas interpretações
da Regina Casé e Camila Márdila.
obrigado pela visita
abrs
Marcelo
outubro 1, 2015 @ 21:42
Sim. Excelente! E na cena da despedida entre Val e Fabinho (que vai para o exterior) percebe-se um amor maternal e filial das personagens que não foram recebidas/dadas pelas mães biológicas. A relação entre as pessoas se dá no dia-a-dia, como aconteceu entre babá e o menino/rapaz. Pena que as famílias hodiernas andam muito atarefadas com a vida moderna e corrida em que vivemos!
Maurício Mellone
outubro 2, 2015 @ 10:33
Marcelo,
o vínculo afetivo entre a babá Val e o garoto Fabinho, filho
do casal dono da mansão, é claro e emocionante.
A diretor/roteirista tb mostra q o mesmo vínculo afetivo a Val não
tem com a própria filha, que foi criada pela tia no NE. As contradições
que são sutis, mas de extrema importância para o entendimento do filme.
Muito obrigado por sua visita e participação.
Volte sempre, terei o maior prazer em respondê-lo.
abr
Imad
setembro 15, 2015 @ 22:23
É um dos melhores filmes brasileiros a que assisti nos últimos anos. Emocionante e com ótimas atuações.
Parabéns pela resenha, Mauricio!
Maurício Mellone
setembro 16, 2015 @ 12:24
Imad,
além de emocionar, o filme da Anna Muylaert provoca
uma reflexão sobre questões intrínsecas da cultura
brasileira.
Obrigado pelo incentivo
bjs
Zedu Lima
agosto 17, 2015 @ 17:45
Ótima resenha. Acendeu ainda mais a vontade que estou de assistir a este filme desde o sucesso que fez em Sundance.
Maurício Mellone
agosto 18, 2015 @ 14:13
Zedu,
Tenho certeza q vc irá adorar!
Obrigado pela força
bjs