De Maurício Mellone em maio 27, 2022
Para quem mora no Recife há pouco mais de quatro meses, a leitura de um livro que tem a cidade como pano de fundo da narrativa foi um incentivo a mais. Ao me deparar com Três rapazes e um quarto, lançamento da Editora Viseu do livro de estreia de Biu da Silva, fiz questão de lê-lo rapidamente, inclusive para me inteirar do universo gay recifense. O protagonista/narrador da obra, Diógenes, um gay de meia idade — que fora casado três anos com Flora —, em razão do rompimento de sua relação de oito anos com Nando, resolve investir numa questão íntima que o incomoda: o que justifica seu desejo por garotos suburbanos que trocam sexo por dinheiro? Movido por esta indagação, ele resolve se relacionar com “todos os homens que porventura cruzassem” seu caminho, com o objetivo do autoconhecimento.
Desta forma, surgem os relatos das historias de Diógenes vividas ao lado dos garotos Berg, Saulo, Johnny e Deyvson, todos suburbanos, de idade que variam de 18 a 24 anos. Diógenes, ao contar com detalhes até picantes o que viveu com cada um deles, monta um painel do mundo gay do Recife, com a descrição de bares, motéis, saunas e boates voltados ao público LGBTQI+. O leitor, ao final, percebe que o livro é o resultado da busca e das respostas íntimas de Diógenes.
Biu da Silva, pseudônimo do professor, cineasta e jornalista recifense Alexandre Figueirôa, opta por narrar as histórias de Diógenes na primeira pessoa; o livro é composto de prólogo, interlúdio, epílogo e 19 capítulos que, de forma intercalada, retratam a trajetória de Diógenes com cada um dos garotos. O título criativo resume a obra: as tórridas relações com os jovens são invariavelmente vividas dentro de um quarto de motel; mas na verdade não são três, há o quarto suburbano que se junta aos demais.
Diógenes, com formação universitária (fez dois cursos) e dispondo de herança do pai, não necessita de emprego formal; é consultor de ONGs, tendo assim horários móveis para os encontros com os garotos de programa, que se dizem heterossexuais e mantêm vida dupla, pois são casados ou têm namoradas. Diógenes banca financeiramente todos os seus amantes e nunca consegue criar vínculos mais duradouros e concretos com eles. Mesmo tendo consciência da regra básica nas relações com michês — não se envolver emocionalmente —, ele ama os garotos, principalmente Johnny, um rapaz inteligente e sensível.
Cada capítulo tem como título o nome dos garotos e traz, além da descrição detalhada das relações sexuais entre eles (o que pode excitar o leitor), o cotidiano dos boys, com o envolvimento deles com tráfico de drogas e o submundo das periferias do Recife. Entretanto, o que sobressai da obra é a busca incessante do narrador por se conhecer melhor, sua tentativa em decifrar os próprios enigmas e limitações. Tanto no prólogo como no epílogo, Diógenes (seria o alter ego de Biu da Silva?) argumenta que a relação com os boys foi terapêutica:
“A convivência com os quatro rapazes me mostrara que eu não era muito diferente deles. No fundo, eu tinha a alma de um homem suburbano.
… Contar os acontecimentos e as emoções vivenciadas com esses rapazes foi uma terapia de extremos que extrapolou limites e permitiu que eu me diluísse diante deles. Desta forma eles puderam ganhar espaço na minha alma e dizer pra mim quem eu era.”
O livro pode atrair o leitor por apresentar as histórias picantes das relações de um homem de meia idade com garotos de programa, mas por trás destes relatos há a confissão de um homem, que temendo a chegada da velhice, busca se reinventar.
Ficha técnica:
Titulo: Três rapazes e um quarto
Autor: Biu da Silva
Editora: Viseu, 227 pág
Preço: 43,90
Fotos: divulgação
3 Comentários
Biu da Silva
maio 27, 2022 @ 17:47
Muito obrigado pela resenha crítica
Maurício Mellone
maio 28, 2022 @ 10:37
Biu,
muito obrigado por sua visita aqui no Favo!
Fiquei muito feliz q vc tenha curtido a resenha.
Sucesso para o seu livro!
abr
Maurício Mellone
maio 28, 2022 @ 10:58
Biu,
Muito obrigado pela visita aqui no Favo.
Fiquei muito feliz que tenha curtido a resenha.
Sucesso a seu livro de estreia
abr