De Maurício Mellone em maio 21, 2022
Premiado em festivais pelo mundo, acaba de estrear no país — no Recife está em cartaz no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco — o filme de Renato Barbieri, Pureza, protagonizado por Dira Paes. Inspirada em história real, a trama relata a saga de Pureza Lopes Loyola, que nos anos 1990 deixou sua casa, numa região pobre do Maranhão, para procurar o filho Abel, interpretado por Matheus Abreu, que partiu para trabalhar no garimpo e assim propiciar vida mais digna para a família.
Com sua fé inabalável, Pureza parte em busca de Abel e, em sua trajetória, se emprega como cozinheira numa fazenda. Lá é testemunha de como os trabalhadores eram tratados com violência e sem direitos. Enganados pelo fazendeiro, os homens eram submetidos a um sistema análogo à escravidão. Pureza consegue se livrar e com a ajuda do padre ligado à Pastoral da Terra, vivido por Cláudio Barros, denuncia os abusos. A princípio sua fala é desprezada pelas autoridades e empresários, mas Pureza, amparada por Elenice (Mariana Nunes), funcionária da Justiça do Trabalho, consegue provas e a denúncia prospera.
O filme começa com Pureza e Abel trabalhando na confecção de tijolos. O rapaz, sentindo a dificuldade porque passavam, resolve trabalhar no garimpo com o objetivo de melhorar a vida deles. Mesmo a contragosto, Pureza dá sua bênção ao filho. Preocupada com a falta de notícia, ela deixa tudo pra trás e vai procurar Abel, com uma única foto dele. Depois de muita busca, sem sucesso, Pureza é contratada como cozinheira para trabalhar numa fazenda. Lá começa a ter noção do horror onde se meteu: os trabalhadores eram tratados com muita violência e não tinham direito algum. Com a desculpa de fazer compras, Pureza vai à cidade e consegue se livrar do cerco. Com a colaboração do padre, é apresentada a Elenice e ambas vão à Brasília fazer a denúncia. No entanto, lobistas dos fazendeiros, aliados a políticos inescrupulosos, desprezam seu depoimento sobre os abusos e as duas mulheres resolvem colher provas. Pureza volta com o padre à fazenda onde trabalhara e consegue gravar depoimentos dos trabalhadores, além de fotografá-los.
Com as provas, a denúncia de Pureza contra o trabalho escravo toma força e é reconhecida. O governo federal institui um grupo do Ministério do Trabalho que passa a fiscalizar e libertar os trabalhadores. O esforço de Pureza Lopes Loyola foi reconhecido mundialmente: em 1997 ela recebeu em Londres o Prêmio Antiescravidão, concedido pela Anti-Slavery International, organização abolicionista mais antiga em atividade.
Com roteiro assinado pelo diretor e por Marcus Ligocki Junior, o filme emociona pela história forte e contundente de Pureza Lopes Loyola, vivida com brilhantismo por Dira Paes. Destaque também para a interpretação de Flávio Bauraqui, que dá vida ao sangrento capataz Narciso, além da atuação de Matheus Abreu e Mariana Nunes. Hoje em que vivemos um retrocesso no Brasil, com o aumento descontrolado do desmatamento e o abuso com o armamento da população — sem dizer dos desmandos do governo federal nas áreas da educação, saúde e cultura —, Pureza é mais do que bem-vindo, como uma forma de denúncia contra o autoritarismo e a violência desmedida.
Fotos: divulgação
2 Comentários
Fatima Bulcao
maio 22, 2022 @ 06:10
Com certeza irei assistir!
Maurício Mellone
maio 24, 2022 @ 11:27
Fatima,
acho q vc vai curtir, é uma denúncia
contundente de trabalho escravo nos anos 1990.
Mas até hoje vemos fazendas mantendo trabalhadores
em situação análoga à escravidão! Um absurdo, que o filme
ajude na reflexão e no combate a este tipo abusivo de contratação
de mão de obra.
Muito obrigado por sua visita aqui no Favo
Beijos