De Maurício Mellone em maio 3, 2017
As atrizes Martha Novill e Maria Manoella participaram em 2008 de um curso de interpretação sobre o famoso método do teatrólogo russo Konstantin Stanislávski. Foram 40 dias de aulas, registrados no diário de Martha, que depois publicou um artigo na revista piauí. O diretor Charly Braun gostou do que leu e propôs para a atriz um documentário. Vermelho Russo é o resultado desta proposta, um longa-metragem em que ficção e realidade se misturam: Marta e Manu (interpretadas pelas próprias atrizes) chegam a Moscou para o curso e se hospedam num retiro de artistas. Elas vão do deslumbramento com as novidades e as diferenças culturais para a dificuldade do curso de interpretação, o distanciamento de suas carreiras no Brasil e o atrito que a convivência diária provoca.
No roteiro, assinado pelo diretor e por Martha Novill, as atrizes desembarcam em Moscou e têm um breve período como verdadeiras turistas: frequentam e fotografam os lugares famosos, como a Praça Vermelha, andam de metrô e se divertem com as diferenças culturais, principalmente com o idioma local. No curso, também tudo é divertido e ameno no início, com as apresentações e as primeiras cenas propostas pelo diretor russo.
Entretanto, nem tudo são rosas. Elas começam a ser questionadas durante as aulas e descobrem como o método é exaustivo e complexo. Outro complicador é o clima gelado da cidade, além do distanciamento do Brasil e de suas realidades (Manu, por exemplo, sente o namorado Nando, vivido por Fernando Alves Pinto, cada vez mais desinteressado pela experiência dela). No entanto o que realmente abala a estrutura das duas amigas é o encontro que tiveram com Michel (Michel Melamed), um diretor brasileiro que está montando uma peça por lá. Numa festa, Michel beija primeiramente Marta, mas depois fica com Manu. Ciúme, rivalidade e desavenças passam a nortear a vida de ambas, interferindo inclusive no desempenho delas no curso.
Esta briga entre as personagens é um dos pontos fortes da trama: além de revelar a dificuldade que o convívio diário e constante provoca entre as pessoas, as personagens da peça que Marta e Manu interpretavam no curso também estavam brigadas. O roteiro propõe um entrelaçamento entre o que as atrizes viviam fora de cena com o drama das personagens da peça encenada no curso.
Mais do que um filme sobre a aventura de duas atrizes brasileiras que viajam a Moscou para frequentar um curso de interpretação, Vermelho Russo discute a amizade e os laços firmados entre duas atrizes que se conhecem há tempos. E mesmo para quem não é muito familiarizado com o meio teatral, o filme revela muito sobre a arte de interpretar e o ponto de vista de Stanislávski sobre a arte e a vida.
Fotos: divulgação
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