De Maurício Mellone em janeiro 29, 2024
Indicado a melhor filme e melhor roteiro original ao Oscar 2024 — cerimônia acontece dia 10 março —, Vidas Passadas, da diretora sul-coreana Celine Song, conta de maneira sensível os encontros e desencontros entre um casal de amigos, Nora e Hae Sung, interpretados por Greta Lee e Teo Yoo. O filme acaba de estrear em diversas cidades do país, inclusive no Recife (ETC e Cinema da Fundação).
Na infância, vivida na Coreia do Sul, eles eram inseparáveis e faziam juras de amor, mas Nora e sua família resolvem se mudar para a América (primeiramente para o Canadá e depois para os Estados Unidos). Somente depois de 12 anos Hae consegue descobrir o paradeiro da amiga por meio das redes sociais e eles retomam o contato. Mas suas vidas já tinham tomado outros rumos e eles resolvem parar de se falar. Mais 12 anos se passam e finalmente eles se reencontram em Nova York para um encontro definitivo.
O que mais chama a atenção no filme é a forma original de narrar uma história de amor. A cena inicial é como um prólogo: três pessoas conversam num balcão de bar (um casal de origem asiática e um norte-americano) e em off há comentários sobre quem são aquelas pessoas. Corte e a cena seguinte se passa na Coreia do Sul há 24 anos, quando Na Young e Hae Sung eram muito próximos e confidentes. No entanto a família de Na Young (ela resolve adotar um nome ocidental, Nora) muda-se para a América e as crianças são separadas pelo destino.
Destino que em coreano é In-Yun e tem um significado mais profundo, ou seja, as várias possibilidades de encontros das pessoas, nesta e em outras vidas. E é exatamente o In-Yun que rege a vida dos personagens: o garoto agora já tendo passado pelo exército quer rever a amiga e consegue por meio da página do Facebook do pai dela deixar uma mensagem. Nora fica contente em ter notícias de Hae e eles iniciam uma intensa conversação virtual. Eles percebem, no entanto, a dura realidade: mesmo reatando os laços de amizade, vivem momentos díspares. Ele quer ir para a China aprender mandarim e ela deseja se aperfeiçoar nos estudos como escritora. A separação é decidida por ambos.
Mais 12 anos se passam na vida deles e Hae viaja de férias a Nova York e quer rever Nora, que agora está casada com Arthur, interpretado por John Magaro. O destino de novo em ação: finalmente eles se reencontram e ela mostra a cidade ao velho amigo. De maneira sutil e delicada, a diretora e roteirista cria situações em que os personagens aos poucos expressam seus reais sentimentos. A cena inicial do balcão do bar se repete, agora com os espectadores compreendendo toda a situação. O momento em que os dois homens ficam sozinhos no bar (Hae sabe pouco de inglês e Arthur conhece apenas umas palavras em coreano) é significativa. A discussão sobre o amor e as diversas maneiras de encontros entre as pessoas (nesta existência e em outras vidas) é emocionante. A reação de Nora ao final surpreende!
Além de uma direção sensível e de um roteiro que propõe discussões profundas sobre a vida e o amor, o filme se destaca pela brilhante interpretação de Greta Lee e Teo Yoo, pela linda fotografia e por uma trilha sonora envolvente. Imperdível; assista, se puder, antes da cerimônia do Oscar e faça suas apostas.
Fotos: divulgação
4 Comentários
Helio Gastaldi Filho
outubro 14, 2024 @ 21:19
Encontrei essa (excelente) resenha ao procurar pelo nome do filme, que apesar de não me lembrar exatamente do nome, me marcou muito, pela sensível e delicada condução, e pelo desenvolvimento da narrativa, que foge totalmente dos clichês que poderiam ocorrer com o argumento inicial do filme. Minha filha curte muito produções e produtos culturais coreanos, e comentei esse filme com ela, dizendo que quanto mais me lembro e penso a respeito mais gosto dele. Recomendei para ela, e recomendo para todos que curtem cinema de verdade. Obrigado pela resenha!
Maurício Mellone
outubro 15, 2024 @ 14:32
Helio:
Muito obrigado pelo seu comentário, tão delicado e amoroso
quanto à produção coreana e à cultura de uma maneira geral.
Faz muito tempo que postei esta resenha, precisei me esforçar
para lembrar do filme. Agradeço tb por isto.
Um abraço e volte sempre
Dinah Sales de Oliveira
janeiro 30, 2024 @ 11:50
Maurício,
Como te disse, depois que vi o trailer, fiquei com vontade de ver esse filme.
Estou colocando o cinema em dia, esse está nas próximas paradas.
Gostei da resenha!
Bjs,
Dinah
Maurício Mellone
janeiro 30, 2024 @ 15:06
Dinah:
Tenho certeza q vc irá amar o filme da
Celine Song, q tem uma forma bem interessante
de contar uma história de amor.
beijos