Viela Ensanguentada: romance de estreia do paulista Wesley Barbosa

De em março 9, 2023

 

Primeiro romance de Wesley Barbosa, lançado pela Ficções Editora

 

Nascido em 1990 na cidade paulista de Itapecerica da Serra, Wesley Barbosa é autor de três coletâneas de contos e acaba de lançar pela Ficções Editora seu primeiro romance, Viela Ensanguentada.

 

Num registro da infância, adolescência e início da vida adulta de Mariano — narrador e personagem central da trama —, a obra traz muito do universo do escritor, que morou numa favela e estudou até o ensino médio; como estagiário de uma biblioteca municipal tornou-se amante dos livros e a literatura de sonho passou a ser seu meio de vida.

 

Uma viela, um beco, com seus personagens das mais variadas funções (o dono do ferro velho, a mãe de santo, os rapazes encostados no muro que vendem o ‘bagulho’, o dono da mercearia, a bibliotecária, além da avó e da mãe de Mariano) formam não só o cenário do livro como são o espelho da vida de Wesley Barbosa.

Wesley é autor de três coletâneas de contos

 

 

“Realidade ensanguentada/
Realidade baleada na favela/
Realidade feita de corpos negros/
Corpos de homens e mulheres
Jogados na viela da periferia.”

 

 

 

 

 

 

 

 

Este trecho do poema que abre o livro é o prenúncio da trama a ser relatada. A obra é dividida em duas partes, cada uma delas com capítulos bem curtos, que revelam o cotidiano de Mariano, um garoto que passa as férias na casa da avó Isabel, uma senhora evangélica que frequenta a igreja do pastor Cristovão. Aos poucos, por meio das andanças do menino pela favela, os personagens do lugar são apresentados, assim como o clima de terror, medo e apreensão.

 

 

“…lembrei que muitas vezes podiam se ver os carros da polícia invadindo as ruas da favela e os policiais enquadrando os meninos da minha idade, que estavam jogando bola na rua. Davam coronhadas na cabeça deles, mandando que se encostassem à parede, e os revistavam de um modo bastante brutal.”

 

 

 

Mariano mora com a mãe, que trabalha exaustivamente, o que deixa o garoto com o tempo livre, já que abandonou a escola. No entanto, ele tem como maior diversão os livros da biblioteca pública: passa horas lendo tudo o que consegue. Mas na volta pra casa tem de passar pela viela, em que Mosca Morta, Olho-de-Peixe e o Cara que nunca diz nada ficam consumindo e vendendo maconha.

 

 

Nesta primeira parte do livro, o leitor tem a chance de observar o crescimento de Mariano, a passagem da infância para a adolescência e, principalmente, a perda da inocência dele, já que é obrigado a presenciar um brutal assassinato.

 

 

 

“A tragédia ria todos os dias em que abria os olhos e via à minha volta a falta de comida e o miserê de outras pessoas iguais a mim, mas também eu tinha algo ao meu favor: a leitura!”

 

 

 

Antes de iniciar a segunda parte, o narrador — alter ego do escritor — diz que se pudesse voltar no tempo diria ao “menino franzino e raquítico que jamais, em hipótese alguma, abandonasse os livros, ou deixasse de ser curioso”.

 

 

 

 


Depois de fazer bicos para ganhar algum dinheiro — catava latinha e ferro velho, numa alusão ao clássico Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus—, Mariano consegue um trabalho: com Chocolate, filho do pedreiro Ernesto, passa a ajudar na construção das casas da favela. Podendo ajudar em casa e comprar sapato e roupas, Mariano tem uma melhora de vida. No entanto, a favela (como sugere o título do livro) não tem a mesma sorte: a violência atinge a todos, sem distinção. A realidade, nua e crua, atinge o garoto/homem de maneira incontestável. Entretanto, Mariano assim como Wesley, foram salvos pela palavra:

 

 

 

 

“Fui chamado de vagabundo, de preguiçoso…Riram dos meus sonhos e, se fosse possível, tirariam da minha cabeça a ideia maluca de me tornar escritor, mas felizmente jamais será possível jogar na lata do lixo as palavras que eu lia e aprendia nos livros.”

 

 

 

História comovente e infelizmente muito atual. A vida nas comunidades das grandes cidades brasileiras vem se modificando, graças ao esforço e ao empenho da maioria dos moradores. Porém o tráfico de drogas, a milícia (grupos de ex-policiais que agem contra os traficantes, mas são forças criminosas) e a violência desmedida ainda sobressaem nas favelas brasileiras. Viela Ensanguentada é mais uma obra, escrita por uma pessoa de dentro da favela, que denuncia o abuso e a violência porque passam os moradores destas comunidades.

 

 

 

 

 

Ficha técnica:                                                         
Título: 
Viela Ensanguentada
Autor: Wesley Barbosa
Editora: Ficções, 120 pgs
Preço: R$ 60.
Venda: Instagram- @barbosaescritor

 

 

 

 

 

 

 

Fotos: divulgação


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