De em junho 16, 2011
Sabe aquele tipo de história que vai enredando o público aos poucos e quando a gente se dá conta, está totalmente envolvido, chegando às lágrimas de tanta emoção e delicadeza? É o que acontece com esse filme francês Minhas Tardes com Margueritte (La Tête en Friche), dirigido por Jean Becker e estrelado pelo gigantesco (não só no físico pois ele está gordo, mas principalmente pelo talento) Gérard Depardieu, que vive o cinquentão Germain , um homem aparentemente bruto e rude.
No entanto, Germain convive com a intolerância e o que hoje conhecemos como bulling desde pequeno: como era gordinho e alto, ele era ridicularizado constantemente na escola, tanto pelos colegas como pelo professor. E em casa era o mesmo drama, pois a mãe (interpretada por Claire Maurier) nunca o aceitou e as brigas eram constantes. Por não reagir, ele se fecha e até a vida adulta sofre gozação dos amigos e é agredido pela mãe.
Porém, a vida do feirante Germain se transforma quando num belo dia ele resolve comer seu lanche na praça e conhece Margueritte (Gisèle Casadesus), uma velhinha de mais de 90 anos que, para espairecer da casa de idosos onde mora, lê seus livros no banco dessa pracinha. De maneira educada, Margueritte pergunta se ele não quer ouvir a história que está lendo; ele aceita e surpreende a velhinha, com sua memória auditiva. A partir desse dia, religiosamente eles se encontram para a leitura e aos poucos ela o traz para o mundo das palavras. É sua redenção! Germain reluta, mas seu interesse pela literatura é tanto que, ao saber que Margueritte sofre de problemas de visão e pode ficar cega, ele passa a ler as histórias para ela!
A maneira como o diretor conta a história do tosco Germain é que provoca o envolvimento do espectador. O feirante não só vende os legumes e verduras como cultiva tudo em sua pequena propriedade. Sua relação com a namorada é de extrema delicadeza e, a partir de seu contato com Margueritte, percebemos como Germain é sensível, amoroso e fraterno. É ele que cuida da mãe, que continua ranzinza até morrer. É ele que, nos momentos de necessidade, consola e dá guarida aos amigos. O brutamonte na verdade é um homem gentil e solidário.
Esse diamante quem dilapidou foi Margueritte, com a palavra, com a literatura. A palavra trouxe aquele menininho acuado para a realidade, de um mundo obscuro e introspectivo para a luz e o amor. Como no final o diretor optou por colocar Germain em off contando a história, fiquei com uma visão bem particular do filme. Germain é o autor do livro que lê para aquela que passou a ser sua verdadeira mãe, Margueritte.
Foto: Divulgação
7 Comentários
Rosa
julho 14, 2011 @ 14:16
Que filme absolutamente lindo. Sua resenha também. Saí do cinema com pena de nao termos nenhum filme nem remotamente parecido no Brasil. Saí com pena de nós mesmos, porque certamente temos histórias lindas como esta em nossas vidas e ninguém daqui as filmaria, porque não tem sexo, drogas, vulgaridade e rudeza. Que filme absolutamente inigualável sobre a amizade em todos os niveis. E repito sua resenha foi tb muito doce. Algo neste filme, em relação à amizade, me fez lembrar Dersu Uzala. Obrigada.
Maurício Mellone
julho 15, 2011 @ 10:40
Rosa:
O filme é mesmo emocionante. Sua lembrança de Dersu Uzala é certeira!
Obrigado e volte sempre me visitar!
bjs
Maurício Mellone
junho 27, 2011 @ 18:21
Laura:
Que delícia receber sua visita, sempre tão assídua!
Allen é mesmo um mestre.
Obrigado pelo carinho, bjs saudosos!
Flavio
junho 18, 2011 @ 14:12
maurício, pensei em ver este filme desde que foi lançado, pois sempre gostei muito do contacto com as velhinhas !! E sua resenha conseguiu me mover , vou ver se nesta próxima tarde de sábado vou conferir !
Bjs e parabéns !
Maurício Mellone
junho 22, 2011 @ 16:05
Flávio: a velhinha desse filme lembra muito a nossa velhinha/avozinha saudosa, que tanto nos ensinou
e nos inspira até hoje! Não deixe de conferir!
bjs
Mario Viana
junho 16, 2011 @ 19:23
A velhinha realmente é uma fofa absoluta. O curioso é que o filme retrata uma França que, acho eu, está sumindo, afogada pela influência americana, pela chegada dos imigrantes, etc. É uma França nostálgica, ainda boa. E o Depardieu volta a brilhar.
Maurício Mellone
junho 17, 2011 @ 12:34
Mario,
vc tem toda a razão, a velhinha é um encanto, parecida com nossas avozinhas! E Depardieu arrasa mesmo; li que ele inclusive
é o produtor do filme! Sobre a França, não tenho muito a falar, pois infelizmente não conheço o país…
bjs